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4.1 A Criação
Por que, como e quando Deus criou o universo?
1. EXPLICAÇÃO E BASE BÍBLICA
Como Deus criou o mundo? Será que ele criou cada espécie diferente de planta e animal de modo direto, ou fez uso de uma espécie de processo evolutivo, guiando o desenvolvimento das coisas vivas a partir das mais simples para as mais complexas? E quanto tempo Deus levou para produzir a criação? Será que ela foi completada no espaço de seis dias de 24 horas, ou Deus serviu-se de milhares ou talvez milhões de anos? Qual é a idade da terra e qual é a idade da raça humana?
Já enfrentamos essas perguntas quando tratamos da doutrina da criação. Diferentemente da maior parte do material anterior deste livro, este capítulo trata de diversas questões sobre as quais os cristãos evangélicos têm diferentes perspectivas, algumas vezes sustentando-as de maneira muito forte.
Este capítulo é organizado para tratar dos aspectos da criação que são mais claramente ensinados na Escritura e sobre os quais a maioria dos evangélicos concordaria (criação do nada, criação especial de Adão e Eva e a bondade do universo), movendo-se para outros aspectos da criação a respeito dos quais os evangélicos têm discordâncias (se Deus usou o processo evolucionário para realizar boa parte da criação, e qual a idade da terra e da raça humana). Podemos definir a doutrina da criação da seguinte maneira: Deus criou o universo inteiro do nada; ele era originariamente muito bom; e ele o criou para glorificar a si próprio.
A. Deus criou o universo do nada 1. Evidência bíblica para a criação do nada.
A Bíblia claramente requer que creiamos que Deus criou o universo do nada. (Algumas vezes a expressão latina ex nihilo ,”do nada”, é usada; diz-se então que a Bíblia ensina a criação ex nihilo ). Isso significa que, antes de Deus ter começado a criar o universo, nada mais existia exceto o próprio Deus.
Essa é a inferência de Gênesis 1.1 que diz: “No princípio Deus criou os céus e a terra”.A frase “os céus e a terra” inclui a totalidade do universo, O salmo 33 também nos diz: “Mediante a palavra do SENHOR foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca [...] Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu” (Sl 33.6,9). No NT encontramos uma afirmação de caráter universal no começo do evangelho de João: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (Jo 1.3). A expressão “todas as coisas” é mais bem entendida como referindo-se à totalidade do universo (cf.At 17.24; Hb 11.3). Paulo é totalmente explícito em Colossenses 1 quando especifica todas as partes do universo, tanto as visíveis como as invisíveis: “pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele” (Cl 1.16).
Hebreus 11.3 diz: “Pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível”. Essa tradução reflete de modo exato o texto grego. Embora o texto não ensine realmente a doutrina da criação ex nihilo , ele chega próximo de fazer isso, visto que diz que Deus não criou o universo de nada que é visível. A idéia um tanto estranha de que o universo poderia ter sido criado de alguma coisa que era invisível provavelmente não estivesse na mente do autor. Ele está contestando a idéia de a criação ter vindo de alguma matéria preexistente, e para esse propósito o versículo é inteiramente claro.
Porque Deus criou a totalidade do universo do nada, nenhuma matéria no universo é eterna. Tudo o que vemos as montanhas, os oceanos, as estrelas, a própria terra — veio à existência quando Deus os criou. Isso nos lembra que Deus governa todo o universo e que nada na criação deve ser adorado a não ser Deus. Contudo, se negássemos a criação ex nihilo , teríamos de dizer que algum tipo de matéria já existia e que ela, como Deus, é eterna. Essa idéia desafiaria a independência e a soberania de Deus, bem como o fato de que a adoração é devida a ele somente. Se a matéria existisse separada de Deus, então que direito inerente teria Deus de governá-la e usá-la para a sua glória? E que confiança poderíamos ter de que cada aspecto do universo cumpre de modo supremo os propósitos divinos, se algumas partes dele não foram criadas por Deus?
O lado positivo de que Deus criou o universo ex nihilo é que esse universo tem significado e propósito. Deus, em sua sabedoria, criou-o para alguma coisa. Devemos tentar entender esse propósito e usar a criação de modo que ela se encaixe nesse propósito, a saber, o de trazer glória ao próprio Deus.' Além disso, sempre que a criação nos traga satisfação (cf. 1 Tm 6.17), devemos agradecer a Deus, que criou todas as coisas.
2. A criação direta de Adão e Eva.
A Bíblia também ensina que Deus criou Adão e Eva de modo especial e pessoal. “Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2.7). Após isso, Deus criou Eva do corpo de Adão: “Então O SENHOR Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado do homem, o SENHOR Deus fez uma mulher e a levou até ele” (Gn 2.2 1,22). Ao que parece Deus deixou Adão saber o que tinha acontecido, pois Adão diz: ”... Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada” (Gn 2.23).
Como veremos adiante, os cristãos diferem sobre o grau em que os desenvolvimentos evolutivos se deram após a criação, talvez (de acordo com alguns) conduzindo ao desenvolvimento de organismos mais e mais complexos. Embora haja diferenças sinceras sobre essa matéria entre os cristãos com respeito aos reinos animal e vegetal, os textos bíblicos são tão explícitos que seria muito difícil para alguns defender a completa veracidade das Escrituras e, ainda assim, sustentar que os seres humanos são o resultado de um longo processo evolutivo. Quando a Escritura diz que o Senhor “formou o homem do pó da terra” (Gn 2.7), isso não parece significar que ele tenha utilizado um processo que levou milhões de anos e tenha empregado o acaso no desenvolvimento de milhares de organismos crescentemente complexos. E ainda mais impossível de conciliar com o pensamento evolucionista é o fato de que essa narrativa claramente retrata Eva como não possuindo mãe; ela foi criada diretamente da costela de Adão enquanto este dormia (Gn 2.21). Mas em uma base puramente evolutiva, isso não seria possível, pois mesmo o primeiro “ser humano” fêmea teria descendido de alguma criatura parecida com o ser humano, mas que ainda era animal. O NT reafirma a historicidade da criação especial de Eva vinda de Adão, quando Paulo diz: “Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem; além disso, o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem” (1 Co 11.8,9).
A criação especial de Adão e Eva mostra que, embora possamos ser iguais a animais em muitos aspectos de nosso corpo físico, mesmo assim somos muito diferentes dos animais. Fomos criados “à imagem de Deus”, o ponto mais alto da criação de Deus, mais parecidos com Deus que com qualquer outra criatura, designados para governar o restante da criação. Mesmo a brevidade da narrativa da criação de Gênesis (comparada com a história dos seres humanos no restante da Bíblia) coloca uma ênfase maravilhosa sobre a importância do homem em relação ao restante do universo. Ela, assim, resiste às tendências modernas de ver o homem como destituído de significado em comparação com a imensidão do universo.
3. A obra do Filho e do Espírito Santo na criação.
Deus Pai foi o agente primário no ato iniciador da criação. Mas o Filho e o Espírito Santo foram também ativos. O Filho é muitas vezes descrito como aquele “por intermédio” de quem a criação se deu. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito” (Jo l.3). Paulo diz que “há um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos” ( lCo 8.6) e ”nele foram criadas todas as coisas” (Cl 1.16). Essas passagens fornecem o quadro sólido do Filho como agente ativo na execução dos planos e diretrizes do Pai.
O Espírito Santo estava também em operação na criação. Ele é geralmente descrito como completando, preenchendo e dando vida à criação de Deus. Em Gênesis 1.2,”... o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, indicando uma função preservadora, sustentadora e orientadora. Jó diz: “O Espírito de Deus me fez; o sopro do Todo-poderoso me dá vida” (Jô 33.4). É importante perceber que em várias passagens do AT a mesma palavra hebraica (rûach) pode significar, em contextos diferentes, ”espírito”, “sopro” ou “vento”. Mas em muitos casos não há grande diferença de significado, pois, se alguém decidisse traduzir alguns termos como o “sopro de Deus” ou mesmo o “vento de Deus”, ainda pareceria um modo figurado de referir-se à atividade do Espírito Santo na criação. Assim o salmista, falando da grande variedade de criaturas na terra e no mar, diz: “Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra” (Sl 104.30, RA); observe também, sobre a obra do Espírito Santo, (Jó 26.13; Is 40.13; lCo 2.10).
B. A criação é distinta de Deus e, todavia, sempre dependente dele.
O ensino da Escritura a respeito da relação entre Deus e a criação é singular entre as religiões do mundo. A Bíblia ensina que Deus é distinto de sua criação. Ele não é parte dela, pois foi ele quem a fez e a governa. O termo freqüentemente usado para dizer que Deus é muito maior que sua criação é a palavra transcendente. De maneira muito simples, isso significa que Deus está muito “acima” da criação no sentido em que é maior que a criação e independente dela.
Deus está também muito envolvido com a criação, pois ela é continuamente dependente dele para existir e funcionar. O termo técnico usado para falar do envolvimento de Deus com a criação é o termo imanente, que significa “permanecer em” a criação. O Deus da Bíblia não é uma divindade abstrata removida da criação e sem interesse nela. A Bíblia é a história do envolvimento de Deus com sua criação e particularmente com os seres humanos criados. Jó afirma que mesmo os animais e as plantas dependem de Deus : “Em sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego de toda a humanidade” (Jó 12.10). No NT, Paulo afirma que Deus “dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas” e que “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.25,28). De fato, em Cristo “tudo subsiste” (Cl 1.17), e ele está continuamente “sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa” (Hb 1.3). Tanto a transcendência como a imanência de Deus são afirmadas em um simples versículo quando Paulo fala de “um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos” (Ef 4.6).
O fato de que a criação é distinta de Deus e no entanto é sempre dependente de Deus e de que Deus está muito acima da criação e mesmo assim envolvido com ela (em resumo, que Deus é tanto transcendente como imanente). Isso é claramente distinto do materialismo, que é a filosofia mais comum dos descrentes hoje em dia e que nega igualmente a existência de Deus. O materialismo diria que o universo material é tudo o que há.
Os cristãos de hoje que colocam o esforço quase total de suas vidas no objetivo de ganhar dinheiro e adquirir mais posses tornam-se materialistas “práticos” em suas atividades, ja que suas vidas não seriam muito diferentes se eles realmente não cressem em Deus. A narrativa escriturística da relação entre Deus e sua criação é também distinta do panteísmo . A palavra grega pan significa “tudo” ou “cada”, e panteísmo é a idéia de que tudo, o universo total, é Deus ou é parte de Deus.
O panteísmo nega diversos aspectos essenciais do caráter de Deus. Se o universo inteiro é Deus, então Deus não possui personalidade distinta. Deus não é mais imutável, porque, como o universo muda, Deus também muda. Além disso, Deus não mais é santo, porque o mal no universo também é parte de Deus. Outra dificuldade é que em última análise a maioria dos sistemas panteístas (como o budismo e muitas outras religiões orientais) acabam negando a importância da personalidade humana individual: como tudo é Deus, a meta do indivíduo seria mesclar-se com o universo e tornar-se mais e mais unido a ele, perdendo assim a sua especificidade individual. Se o próprio Deus não possui identidade pessoal distinta e separada do universo, certamente não devemos nos esforçar para possuí-la também. Assim, o panteísmo destrói não somente a identidade pessoal de Deus, mas também, de modo definitivo, a dos seres humanos.
A narrativa bíblica também destrói o dualismo . Essa é a idéia de que tanto Deus como o universo material existem eternamente lado a lado. Assim, há duas forças supremas no universo, Deus e a matéria. O problema com o dualismo é que ele indica o conflito eterno entre Deus e os aspectos maus do universo material. Deus triunfará de modo definitivo sobre o mal no universo? Não podemos estar certos, porque tanto Deus como o mal certamente existem eternamente lado a lado. Essa filosofia negaria tanto o senhorio supremo de Deus sobre a criação como também o fato de que a criação veio a existir por causa da vontade de Deus, que ela deve ser usada unicamente para seus propósitos e que ela existe para glorificá-lo. Essa perspectiva também negaria que tudo no universo foi criado inerentemente bom (Gn 1.31) e encorajaria pessoas a ver a realidade material como má em si mesma, em contraste com a genuína narrativa bíblica da criação que Deus fez para ser muito boa e que ele governa para os seus propósitos.
Um exemplo de dualismo na cultura moderna é a trilogia Guerra nas estrelas, que postula a existência da “força” universal que tem tanto o lado bom como o mau. Não há o conceito do Deus transcendente e santo que governa tudo e certamente triunfará sobre tudo. Quando os não-cristãos hoje começam a ficar conscientes da realidade espiritual no universo, eles muitas vezes se tornam dualistas, reconhecendo apenas que há aspectos bons e maus no mundo sobrenatural ou espiritual. O movimento Nova Era é na maior parte dualista. Naturalmente Satanás está se deliciando por haver pessoas pensando que existe uma força má no universo que talvez seja igual ao próprio Deus.
A visão cristã da criação é também distinta da perspectiva do deísmo . O deísmo é a visão de que Deus não está agora diretamente envolvido com a criação.
O deísmo geralmente sustenta que Deus criou o universo e é muito maior que ele (Deus é “transcendente”). Alguns deístas também concordam que Deus tem padrões morais e por fim vai considerar as pessoas responsáveis no dia do juízo. Mas eles negam o envolvimento atual de Deus com o mundo, não dando assim espaço algum para sua imanência na ordem criada. Ao contrário, Deus é visto como o relojoeiro divino que deu corda no relógio da criação no início, mas depois o deixou funcionar por si próprio.
Ao mesmo tempo em que o deísmo afirma a transcendência de Deus, ele nega quase toda a história da Bíblia, que é a história do envolvimento ativo de Deus no mundo. Muitos cristãos nominais ou “mornos” são de fato deístas práticos, já que vivem longe da oração genuína, adoração, temor de Deus ou confiança contínua em Deus para que este cuide das necessidades que surgem.
C. Deus criou o universo para mostrar a sua glória
Está claro que Deus criou seu povo para a sua glória, porque ele fala de seus filhos e filhas como aqueles “a quem criei para a minha glória, a quem formei e fiz” (Is 43.7). Mas não são somente os seres humanos que Deus criou com esse propósito. Toda a criação foi feita para mostrar a glória de Deus. Mesmo a criação inanimada, as estrelas, o sol, a luz e o céu testificam da grandeza de Deus: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos” (Sl 19.1,2). O cântico da adoração celestial em Apocalipse 4 conecta a criação de todas as coisas por Deus com o fato de que ele é digno de receber a glória que elas lhe conferem: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas” (Ap 4.11).
O que a criação mostra a respeito de Deus? Primeiramente ela mostra seu grande poder e sabedoria, muito acima de qualquer coisa que poderia ser imaginada por qualquer criatura. “Mas foi Deus quem fez a terra como seu poder, firmou o mundo com a sua sabedoria e estendeu os céus com o seu entendimento” (Jr 10.12). O simples olhar para o sol ou para as estrelas nos convence do infinito poder de Deus. E mesmo a breve inspeção de qualquer folha de árvore, ou da maravilha da mão humana, ou de qualquer célula viva nos convence da grande sabedoria de Deus. Quem poderia fazer tudo isso? Quem poderia fazer isso do nada? Quem poderia sustentar tudo isso dia após dia por anos sem fim? Tal poder infinito e capacidade complexa estão completamente além de nossa compreensão. Quando meditamos nisso, damos glória a Deus.
Quando afirmamos que Deus criou o universo para mostrar a sua glória, é importante que percebamos que ele não precisava criá-lo. Não devemos pensar que Deus precisava de mais glória do que ele tinha dentro da Trindade por toda a eternidade ou que ele estava de alguma forma incompleto sem a glória que haveria de receber do universo criado. Isso seria negar a independência de Deus e sugerir que Deus precisava do universo a fim de ser plenamente Deus. Ao contrário, devemos afirmar que a criação do universo foi um ato de Deus totalmente livre. Não era um ato necessário, mas foi algo que Deus escolheu fazer .”Tu, Senhor [...], criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas” (Ap 4.11). Deus quis criar o universo para demonstrar sua excelência. A criação mostra sua grande sabedoria e poder, bem como, de modo supremo, todos os seus outros atributos. Parece então que Deus criou o universo para se deleitar na criação, pois, como a criação mostra os vários aspectos do caráter de Deus, ele tem prazer nela.
Isso explica por que temos prazer espontâneo em todas as espécies de atividades criadoras que temos. As pessoas com habilidades artísticas, musicais ou literárias têm prazer em criar coisas e vê-las, ouvi-las ou ponderar sobre a obra criada. E um dos aspectos encantadores da humanidade — em contraste com o restante da criação — é a nossa capacidade de criar coisas novas. Isso também explica por que temos prazer em outras espécies de atividade “criativas”: muitas pessoas apreciam cozinhar, decorar a casa, jardinagem, trabalhar com madeira ou outros materiais, produzir invenções científicas ou inventar novas soluções para problemas de produção industrial. Mesmo as crianças gostam de colorir quadros ou construir casas de bloquinhos de plástico. Em todas essas atividades, refletimos em escala menor a atividade criadora de Deus, por isso devemos ter prazer nela e agradecer a Deus por ela. Em todas essas atividades, refletimos em escala menor a atividade criadora de Deus, por isso devemos ter prazer nela e agradecer a Deus por ela.
D. O universo que Deus criou era “muito bom”
Esse ponto é a seqüência do ponto anterior. Se Deus criou o universo para mostrar a sua glória, então devemos esperar que o universo cumpra o propósito para o qual ele o criou. De fato, quando Deus terminou a sua obra de criação, ele teve prazer nela. No final de cada estágio da criação, Deus viu que o que ele havia feito era bom (Gn 1.4,10,12,18,21,25). Então, no final dos seis dias da criação, “...Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gn 1.3 1). Deus teve prazer na criação que ele havia feito exatamente como havia proposto fazer.
Mesmo havendo pecado no mundo agora, a criação material é ainda boa à vista de Deus e deveria ser vista como “boa” por nós também. Esse conhecimento vai nos livrar de um ascetismo falso que vê o uso e o prazer da criação material como errado. Paulo diz que “... tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração” (lTm 4.4,5).
Embora a ordem criada possa ser usada de modo pecaminoso e egoísta, desviando nossas afeições de Deus, não devemos deixar o perigo do abuso da criação de Deus privar-nos de desfrutá-la de modo positivo, com gratidão e alegria, para o bem do seu Reino. Logo após Paulo ter advertido contra o desejo de ser rico e do “amor ao dinheiro” (cf. lTm 6.9,10), ele afirma que é o próprio Deus “que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação” (lTm 6.17). Esse fato incentiva os cristãos a encorajar o desenvolvimento industrial e tecnológico apropriado (juntamente com a preocupação ambiental), e a usar de modo alegre e agradecido todos os produtos da exuberante terra que Deus criou — com a imensa variedade de comidas, roupa, habitação, assim como dos produtos modernos como automóveis, aviões, câmeras, telefones e computadores.Todas essas coisas podem ser superestimadas e usadas indevidamente, mas em si mesmas não são más; representam o desenvolvimento da boa criação de Deus e devem ser vistas como belos dons de Deus.
E. O relacionamento entre a Escritura e as descobertas da ciência moderna.
Em várias ocasiões na história, vemos os cristãos discordando das opiniões consagradas pela ciência contemporânea. Na grande maioria dos casos, a fé cristã sincera e a forte confiança na Bíblia conduziram cientistas à descoberta de novos fatos a respeito do universo de Deus, e essas descobertas têm mudado a opinião científica em toda a história subsequente . A vida de Isaac Newton, Galileu Galilei, Johannes Kepler, Blaise Pascal, Robert Boyle, Michael Faraday, James Clerk Maxwell e muitos outros são exemplos disso.
Por outro lado, houve momentos em que a opinião científica aceita entrou em conflito com o entendimento que as pessoas têm do que a Bíblia diz. Por exemplo, quando o astrônomo italiano Galileu (1564-1642) começou a ensinar que a terra não era o centro do universo, mas que a terra e os outros planetas giravam em torno do sol (seguindo assim as teorias do astrônomo polonês Copérnico [1472-1543]), ele foi criticado, e seus escritos acabaram sendo condenados pela Igreja Católica Romana. Isso aconteceu porque muitas pessoas pensavam que a Bíblia ensinava que o sol girava em torno da terra. Na verdade a Bíblia não ensina isso de forma nenhuma, mas foi a astronomia de Copérnico que levou as pessoas a pesquisar novamente a Bíblia para ver se ela realmente ensinava o que eles pensavam que ela ensinava. As descrições que a Bíblia apresenta do sol se levantando e do sol se pondo (Ec 1.5) simplesmente pintam eventos da perspectiva do observador humano e, dessa perspectiva, elas fornecem uma descrição precisa. A lição de Galileu, que foi forçado a retratar-se em seu ensino e que teve de viver preso em sua casa nos últimos poucos anos de sua vida, deveria fazer-nos lembrar que a cuidadosa observação do mundo natural pode levar-nos de volta à Escritura, para reexaminar se ela realmente ensina o que pensamos que ela ensina. Às vezes, no exame mais preciso do texto, podemos perceber que a nossa interpretação anterior estava incorreta.
Na seção seguinte, veremos alguns princípios pelos quais o relacionamento entre a criação e os descobertos da ciência moderna podem ser abordados.
1. Quando todos os fatos são entendidos corretamente, não haverá “nenhum conflito final” entre a Escritura e a ciência natural.
A frase “nenhum conflito final” é retirada de um livro muito útil de Francis Schaeffer, No final conflict [Nenhum conflito final]. Com respeito às questões relacionadas à criação do universo, Schaeffer aponta diversas áreas nas quais, em seu modo de ver, há lugar para desacordo entre cristãos que acreditam na veracidade total das Escrituras. Entre essas áreas ele inclui a possibilidade de que Deus tenha criado um universo “crescido”, a possibilidade de um intervalo entre Gênesis 1.1 e 1.2 ou entre 1.2 e 1.3, a possibilidade de um longo dia em Gênesis 1 e a possibilidade de que o Dilúvio tenha afetado dados geológicos. Schaeffer deixa claro que não está dizendo que qualquer dessas posições seja sua, mas apenas que elas são teoricamente possíveis. O ponto mais importante de Scheaffer é que tanto em nosso entendimento do mundo natural como em nossa compreensão da Escritura, o conhecimento que possuímos não é perfeito. Mas podemos abordar tanto o estudo científico como o bíblico com a confiança de que, quando todos os fatos estiverem corretamente entendidos e quando tivermos entendido a Escritura corretamente, nossas descobertas nunca entrarão em conflito uma com a outra; não haverá “nenhum conflito final”. Isto porque Deus, que fala na Escritura, conhece todos os fatos, e nunca falou de modo que contradissesse qualquer fato verdadeiro no universo.
2. Algumas teorias a respeito da criação parecem claramente em desacordo com os ensinos da Escritura.
Nesta seção examinaremos três tipos de explicação da origem do universo que parecem claramente contrários à Escritura.
a. Teorias seculares.
Em nome da idéia de totalidade, mencionamos aqui somente de maneira breve que quaisquer teorias puramente seculares da origem do universo seriam inaceitáveis para os que crêem na Escritura. Uma teoria “secular” é qualquer teoria da origem do universo que não contempla o Deus infinito-pessoal como responsável por criar o universo com propósito inteligente. Assim, a teoria do big-bang (em sua versão secular, na qual Deus fica excluído) ou quaisquer teorias que sustentam que a matéria sempre existiu seriam contrárias ao ensino da Escritura de que Deus criou o universo do nada, e que ele o fez para a sua glória. (Quando a evolução darwiniana é interpretada no sentido totalmente materialista, como muitas vezes é, deveria pertencer a essa categoria também).
b. Evolucionismo teísta.
Desde a publicação do livro de Darwin, A origem das espécies por meio de seleção natural (1859), alguns cristãos têm sustentado que os organismos vivos apareceram pelo processo da evolução que Darwin propôs, mas que Deus guiou esse processo de forma que o resultado foi exatamente o que ele queria que fosse. Esse pensamento é chamado evolucionismo teísta porque advoga a crença em Deus (daí o nome teísta) e também na evolução.
Muitos que sustentam esse evolucionismo teísta proporiam que Deus interveio no processo em alguns pontos cruciais, normalmente 1) na criação da matéria no início, 2) na criação da forma mais simples de vida e 3) na criação do homem. Mas com a exceção possível desses pontos de intervenção, os evolucionistas teístas sustentam que a evolução seguiu os processos agora descobertos pelos cientistas e que esse foi o método que Deus decidiu usar ao permitir que todas as outras formas de vida da terra se desenvolvessem. Eles crêem que a mutação casual das coisas vivas levou à evolução das formas mais elevadas de vida porque os que possuíam uma “vantagem de adaptação” (uma mutação que os permitia ser mais bem adaptados para sobreviver em seu ambiente) viviam, enquanto os outros não.
Um exame dos dados da Escritura revela que a evolução teísta é contrária à narrativa bíblica da criação. O ensino claro da Escritura de que há plenitude de propósito na obra da criação de Deus parece incompatível com a casualidade exigida pela teoria da evolução. Quando a Escritura registra que Deus disse: “Produza a terra seres vivos de acordo com as suas espécies: rebanhos domésticos, animais selvagens e os demais seres vivos da terra, cada um de acordo com a sua espécie” (Gn 1.24), ela descreve Deus fazendo coisas intencionalmente e com um propósito para cada coisa que faz. Mas isso é o oposto das mutações permitidas que acontecem totalmente ao acaso, sem propósito algum nos milhões de mutações que teriam de acontecer, sob a teoria evolutiva, antes que novas espécies pudessem emergir.
A diferença fundamental entre a visão bíblica da criação e o evolucionismo teísta repousa aqui: a força motriz que produz mudança e o desenvolvimento de novas espécies em todos os esquemas evolutivos é a casualidade, ou o acaso. Sem a mutação casual dos organismos, não temos evolução no sentido científico moderno de forma alguma. A mutação ao acaso é a força subjacente que produzo desenvolvimento eventual das formas mais simples para as formas mais complexas de vida.
Mas a força motriz no desenvolvimento de novos organismos segundo a Escritura é o desígnio inteligente de Deus .”Deus fez os animais selvagens de acordo com as suas espécies, os rebanhos domésticos de acordo com as suas espécies, e os demais seres vivos da terra de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom” (Gn 1.25). Essas afirmações parecem não se harmonizar com a idéia de Deus criando, dirigindo ou observando milhões de mutações casuais, nenhuma delas sendo “tão boa” quanto ele planejara, nenhuma delas realmente sendo a espécie de plantas ou animais que ele queria que houvesse na terra. A visão da evolução teísta tem de abranger eventos ocorridos mais ou menos assim: “E Deus disse: Produza a terra criaturas vivas de acordo com as suas espécies. E após 387 492 871 tentativas, Deus finalmente fez um rato que funcionou”.
Essa pode parecer uma explicação estranha, mas é exatamente o que o evolucionismo teísta deve postular para cada uma das centenas de milhares de diferentes espécies de plantas e animais sobre a terra: elas todas teriam se desenvolvido por meio de um processo de mutação casual durante milhões de anos, aumentando gradualmente em complexidade à medida que a vasta maioria das mutações eram prejudiciais, mas as mutações ocasionais tornavam-se vantajosas para a criatura.
O evolucionista teísta pode objetar que Deus interveio no processo e guiou-o em muitos pontos na direção planejada por ele. Mas, uma vez que se admita isso, há propósito e desígnio inteligente no processo — não temos mais qualquer evolução, porque não há mais mutação casual (nos pontos da interação divina há a produção de resultados).
A evolução teísta também parece incompatível com a descrição que a Bíblia dá da palavra criadora produzindo uma resposta imediata. Quando a Bíblia fala a respeito da palavra criadora de Deus, ela enfatiza o poder dessa palavra e sua capacidade de realizar o propósito divino. “Mediante a palavra do SENHOR foram feitos os céus, e os corpos celestes, pelo sopro de sua boca. [...] Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu” (S1 33.6,9).
Essa espécie de afirmação parece que contraria a idéia de que Deus falou e, após milhões de anos e milhões de mutações casuais nas coisas vivas, seu poder produziu o resultado que ele exigiu. Antes, tão logo após Deus ter dito “Cubra-se a terra de vegetação”, a frase imediata nos garante: ”E assim foi” (Gn 1.1 1).
O atual papel ativo de Deus em criar ou formar cada coisa viva que agora vem à existência também é difícil de conciliar com o tipo de advertência “não se meta” da evolução que é proposto pelo evolucionismo teísta. Davi foi capaz de confessar: “Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe” (S1 139.13). E Deus disse a Moisés: “Quem deu boca ao homem? Quem o fez surdo ou mudo? Quem lhe concede vista ou o torna cego? Não sou eu, o SENHOR?” (Ex 4.11). Deus faz o pasto crescer (SI 104.14; Mt 6.30) e alimenta as aves do céu (Mt 6.26) e as outras criaturas da floresta (Sl 104.21,27-30). Se Deus está tão envolvido produzindo o crescimento e o desenvolvimento de cada etapa de todo ser vivo até agora, parece de acordo com a Escritura dizer que essas formas de vida foram originariamente produzidas pelo processo evolutivo dirigido pela mutação casual e não pela criação direta e plena de propósito de Deus?
Definitivamente, a criação especial de Adão, bem como de Eva a partir de Adão, é uma razão forte para romper com o evolucionismo teísta. Esses evolucionistas teístas que defendem a criação especial de Adão e Eva por causa das afirmações de Gênesis 1 e 2 realmente rompem com a teoria evolucionista no ponto mais importante no que diz respeito aos seres humanos. Mas se, com base na Escritura, insistimos na intervenção especial de Deus na questão da criação de Adão e Eva, o que impediria ou permitiria que Deus interviesse, de modo similar, na criação dos organismos vivos?
Devemos perceber que a criação especial de Adão e Eva, conforme o registro da Escritura, demonstra que eles eram muito diferentes das criaturas que os evolucionistas descreveram como os primeiros seres humanos, criaturas primitivas, com pouquíssimas habilidades, que descenderiam de criaturas não humanas altamente desenvolvidas, sendo apenas um pouco superiores a elas. A Escritura descreve o primeiro homem e a primeira mulher, Adão e Eva, como possuidores de capacidades altamente desenvolvidas: linguísticas, morais e espirituais, desde o momento em que foram criados. Eles podiam falar um com o outro. Podiam até falar com Deus. Eram muito diferentes daqueles seres humanos primitivos mais parecidos com animais, descendentes de criaturas não humanas parecidas com macacos, da teoria evolucionista.
Parece mais apropriado concluir com as palavras do geólogo Davis A. Young: “A posição do evolucionismo teísta como expressa por alguns de seus proponentes não é uma posição coerente com o cristianismo. Não é uma posição verdadeiramente bíblica, porque ela é baseada em parte em princípios que são importados para o cristianismo” . Segundo Louis Berkhof, ”é realmente uma vergonha dizer que Deus é chamado, a intervalos periódicos, a socorrer a natureza, remediando os abismos vazios que bocejam aos pés dela. A doutrina da criação não é isso, nem tampouco uma coerente teoria da evolução”.
c. Notas sobre a teoria darwiniana da evolução.
1) Desafios atuais à evolução. A palavra evolução pode ser usada de diferentes modos. As vezes ela é usada para referir-se à “micro-evolução” — pequenos desenvolvimentos dentro de uma espécie, de modo que vemos moscas ou mosquitos tornando-se imunes a inseticidas, ou seres humanos ficando mais altos, ou cores diferentes e variedades de rosas se desenvolvendo. Exemplos inumeráveis de tal micro-evolução são evidentes hoje, e ninguém nega que eles existem. Mas esse não é o sentido em que a palavra evolução é geralmente usada quando as teorias da criação e evolução são discutidas.
O termo evolução é usado com mais freqüência para referir-se à macro-evolução — a saber, a “teoria da evolução geral”, ou a concepção de que “as substâncias sem vida deram surgimento ao primeiro material vivo, que subsequentemente reproduziu-se e diversificou-se para produzir todos os organismos extintos e existentes”. Neste capítulo, quando usamos a palavra evolução, ela é usada para referir-se à macro-evolução ou à teoria da evolução geral. Na teoria darwiniana moderna de evolução, a história do desenvolvimento da vida começou quando uma mistura de elementos químicos presentes na terra produziu espontaneamente uma forma de vida muito simples, provavelmente unicelular.
Essa célula viva reproduziu-se, e finalmente houve algumas mutações ou diferenças nas novas células produzidas. Essas mutações levaram ao desenvolvimento de formas de vida mais complexas. Um ambiente hostil significava que muitas delas haveriam de perecer, mas as que fossem mais bem adaptadas ao seu ambiente sobreviveriam e se multiplicariam. Assim, a natureza exerceu o processo de “seleção natural” no qual os organismos variantes mais adaptados ao ambiente sobreviveram. Mais e mais mutações finalmente se desenvolveram em mais e mais variedades de coisas vivas, de modo que, a partir dos organismos bem mais simples, as formas mais complexas de vida vieram a se desenvolver, mediante esse processo de mutação e seleção natural.
Desde que Charles Darwin publicou sua obra A origem das espécies por meio de seleção natural, em 1859, essa teoria tem sido desafiada tanto por cristãos como por não-cristãos. Críticos modernos estão promovendo críticas cada vez mais devastadoras à teoria evolucionista, levantando questões como as que se seguem:
Autor: Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do autor. Ed. Vida Nova. Compre este livro em http://www.cep.org.br |
sábado, 21 de setembro de 2013
As Obras e os Decretos de Deus - A Criação
4. As Obras e os Decretos de Deus
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