Fomos chamados para viver acima das circunstâncias e ter os nossos olhos no Senhor. As Escrituras Sagradas nos dizem que Satanás veio para roubar, matar e destruir (Jo.10:10). Cristo, por sua vez, veio para nos dar vida e vida com abundância. Sempre ouvimos que o diabo vive tentando roubar a saúde, o dinheiro e a família de cada vivente, pois ele não quer que ninguém seja feliz sob as bênçãos de Deus.
Mas o fato é que o diabo não está tão preocupado com estas coisas, elas não são seu verdadeiro alvo. O que ele verdadeiramente quer é roubar nossa fé e relacionamento com Deus. Este é seu fim, seu grande objetivo; mas roubar a saúde, o dinheiro e a família, são MEIOS QUE ELE USA para tentar conseguir chegar onde realmente quer.
Portanto, precisamos aprender a viver olhando para o alto, com nossos olhos fixos no Senhor em todo tempo, independentemente das circunstâncias à nossa volta. E o processo de ser mais que vencedor tem a ver com isto. No fim da prova Deus não somente nos dá a vitória, como também nos ensina a apegarmo-nos mais a Ele, vivendo acima das situações externas.
A geração atual de crentes vive olhando somente para as coisas terrenas, não tem seus olhos em Deus. Nossa pregação praticamente só enfatiza o que é terreno, quase não se leva as pessoas a olharem o celestial; mas segundo a exortação bíblica, devemos levantar nossos olhos:
"Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus."
Colossenses 3:1-3.
Note o mandamento da Palavra que vem como um imperativo: Buscai e pensai nas coisas do alto, não nas que são da terra. Em toda a Bíblia encontraremos advertências quanto à termos nossos olhos no alto em vez de na terra. No tabernáculo de Moisés, que Deus o mandou construir segundo o exato modelo das visões que ele teve no monte, é impressionante a ênfase figurada que o Senhor deu deste assunto.
Quando mandou Moisés fazer as quatro coberturas que se sobrepunham como teto da tenda da revelação, o Pai Celestial mandou que elas fossem todas bordadas, embelezadas; eram um verdadeiro espetáculo artesanal que ninguém hoje poderia reproduzir, pois a arte não era meramente humana, Deus havia enchido os artesãos com seu Espírito para que pudessem executar o modelo divino ordenado. Portanto, quando alguém entrava na tenda da revelação, se queria ver algo belo tinha que olhar para cima, para o alto.
Mas se conservasse seus olhos no chão não veria beleza alguma, pois Deus nunca mandou que fizessem nenhum tipo de piso, aonde acampavam utilizavam-se da própria terra do local. Enquanto o teto era indescritivelmente belo, o chão era feio, de terra. Assim também é na vida cristã, a beleza do andar com Deus está quando aprendemos a olhar para o alto, para Deus mesmo e as coisas celestiais; não há beleza numa vida de preocupação somente com o terreno.
Não há nada espiritualmente belo num evangelho que só prega sobre o dinheiro e os caprichos deste mundo como se isso fosse a prosperidade bíblica! Não se engane, nossos olhos devem se levantar bem acima do que é terreno, sejam os atrativos deste mundo ou as circunstâncias negativas que nos cercam; devemos olhar para o alto em todo tempo.
Crentes que só se preocupam com o dinheiro e seus negócios, não servirão ao propósito divino da colheita de almas, pois para se ter a sensibilidade espiritual de ver a necessidade dos perdidos é preciso tirar os olhos das coisas terrenas e levantá-los para os céus. Jesus mesmo disse: "erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa" (Jo.4:35). Por que o Mestre disse isto aos discípulos?
Porque enquanto eles só haviam pensado em buscar comida e saciar sua fome naquela aldeia de samaritanos, Jesus se preocupara em ganhar aquela mulher que estava junto ao poço de Jacó, e ela por sua vez, trouxe praticamente toda a aldeia para ouvi-lo. Então ele lhes diz que se nossos olhos estiverem no chão, cuidando apenas das coisas terrenas, não enxergaremos os campos brancos para a ceifa; ou seja, não teremos a sensibilidade de ver a necessidade espiritual das pessoas.
Temos que olhar para o alto se queremos ser úteis ao Senhor, pois aqueles que só olham para o chão desanimam-se nas horas difíceis e deixam de servi-Lo. Já quanto aos que têm seus olhos no Senhor, não há o que os faça parar. Prender nossos olhos no chão é o grande plano satânico contra nossas vidas; ao atacar nossa saúde, família e bens, o que o maligno quer de fato é tirar nossos olhos do Senhor, fazendo com que fitemos somente o chão, o terreno.
Embora, tirar os olhos da terra não significa tirar os pés do chão (a perda do pragmatismo e da disciplina).
Há um texto bíblico que revela esta astúcia do inimigo em seus ataques; examinêmo-lo com suas figuras espirituais:
"E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder endireitar-se.
Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade; e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a Deus."
Lucas 13:11-13.
Esta mulher andava encurvada por quase duas décadas, e não havia meios de se endireitar pois sua doença era espiritual e não física. Tratava-se de um espírito maligno de enfermidade, um agente de Satanás prendendo seu corpo. Sabe, há uma figura aqui; esta mulher vivia olhando somente para o chão; sua costa encurvada a impedia de andar olhando para cima. Podemos ver em operação na vida desta mulher o verdadeiro plano maligno contra cada cristão;
Cristo disse que ela estava numa prisão de Satanás:
"Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?"
Lucas 13:16.
Estar numa prisão de Satanás não quer dizer que o próprio príncipe das trevas a prendia pessoalmente, pois já vimos que era um enviado dele, um espírito de enfermidade, quem realizava o trabalho. Mas Jesus mostrou que tal espírito maligno só estava cumprindo ordens de seu chefe, o que nos permite ver que o plano era de Satanás e a execução era do subalterno dele. Por que é importante notar isto? Para entendermos que o inimigo não nos ataca só por atacar, ele tem planos e estratégias para tentar nos derrubar e devemos nos prevenir contra ele!
Que tipo de prisão era esta que Jesus mencionou? Não era a doença e nem o espírito de enfermidade em si, mas a que ponto ele levava esta mulher. Ela não podia olhar para o alto! É isto que o diabo quer, que tiremos os nossos olhos de Deus; esta era uma crente da época, pois foi chamada de "filha de Abraão", referência dada não só por ser naturalmente descendente do patriarca, mas por esperar na promessa divina feita a ele. Também vemos que ela estava na sinagoga, o que poderíamos chamar de a igreja da época. Não se tratava de uma pecadora qualquer que nada queria saber acerca de Deus, mas de alguém que o temia, cria n'Ele e queria andar em sua presença.
Semelhantemente, Satanás tenta nos prender com os olhos no chão, para que não olhemos para cima. E por que ele nos ataca desta forma? Porque ele não pode nos arrancar das mãos de Deus, como Jesus mesmo falou:
"As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.
Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar.
Eu e o Pai somos um."
João 10:27-30.
O diabo jamais poderá nos tirar das mãos de Jesus! Nunca! Temos um claro pronunciamento de Jesus Cristo neste sentido. Mas ele vai atacar com sutileza; ele quer nos indispor com o Senhor, fazendo com que nos voltemos contra Ele, porque então nós mesmos desceremos dos braços do Senhor e estaremos expostos. No livro do Apocalipse, o Senhor faz menção da doutrina de Balaão, que costumava ensinar Balaque a por tropeços diante dos filhos de Israel para que pecassem (Ap.2:14).
Lemos em Números que Balaque contratou Balaão para amaldiçoar a Israel pois tinha medo de ser por ele destruído na batalha. Deus advertiu a Balaão que não fosse após Balaque, mas ele amou o prêmio da injustiça e desobedeceu. Mas não conseguiu amaldiçoar ao povo do Senhor, pois em cada uma das quatro vezes em que tentou fazê-lo, Deus mudou suas palavras em bênçãos sobre os israelitas. Vendo que nada podia contra o povo, Balaão aconselhou Balaque, rei dos moabitas, a enviar as mulheres do seu povo ao arraial dos israelitas para que se prostituíssem com eles e então os levasse a adorar os deuses delas.
Qual foi o pensamento de Balaão? Ele viu que não havia como tocar o povo pois eles estavam debaixo da proteção divina e com Deus ninguém pode; então a única saída seria colocar o povo contra Deus, visto que Deus não abandonaria o povo. E quando através do pecado da prostituição e também da idolatria o povo se afastou do Senhor, então ficou vulnerável, e a ira do Senhor se acendeu contra o povo.
O que Balaão não podia fazer contra o povo, fez com que o próprio povo fizesse contra si mesmo! É assim que o diabo age. Uma vez que ele não pode tirar-nos da mão do Senhor, nem fazer nada contra nossas vidas por permanecemos em Cristo, então tenta nos colocar contra o Senhor, para que saiamos do colo d'Ele e fiquemos vulneráveis.
Esta é a razão porque o maligno tanto tenta prender nossos olhos nas coisas materiais, para que quando conseguir tocar nelas isto venha a doer em nós a tal ponto de nos indispormos contra Cristo. Mas na vida daquele que ama o Senhor e tem os olhos n'Ele, o inimigo não consegue isto.
Isso nos permite ver porque Satanás investe tanto contra o que possuímos, não porque seja isto o que ele queira, mas por ser o meio para que ele tente chegar onde realmente quer chegar: minar nossa fé e relacionamento com o Senhor. Mas diante disto podemos também enxergar porque Deus permite o inimigo investir contra estas áreas de nossas vidas; cada ataque maligno pode ser visto como um tempo de treinamento e adestramento para os soldados do exército divino.
No paralelo natural, nunca vemos num quartel os soldados prepararem-se para a guerra passando um ano inteiro deitados em redes com sombra e água fresca. Não! Pois isto não prepara ninguém! Também o Senhor não treina seu exército no bem-bom da vida, mas em meio às provas e tribulações.
E muitas vezes Deus permitirá o ataque do maligno contra seus bens materiais para que ao fim você não apenas vença, mas seja mais que vencedor, seja alguém tratado pelo Senhor; pois enquanto Satanás nos tira algo tentando fazer com que nosso coração egoísta se volte contra Deus, o Senhor por sua vez, permite que aquilo seja temporariamente tirado até que nosso coração aprenda a não se apegar àquilo mais do que a Deus.
Quando um homem ou uma mulher de Deus colocam seus olhos no Senhor e assim permanecem, serão vitoriosos. Tenho aprendido que os ataques mais atrozes do inimigo, como aqueles em que pessoas chegaram ao ponto de morrer por Cristo, não visavam tocar nas circunstâncias e nem mesmo na vida destas pessoas; o diabo não queria que morressem, mas que, por medo da morte negassem Jesus.
Cada vez que um mártir derramou seu sangue pelo evangelho, Satanás não ganhou, só perdeu. Pois o heroísmo dos mártires somente fortaleceu o evangelho, nunca o enfraqueceu. Nosso conceito de vitória ainda é muito carnal, terreno; mas os mártires foram além disto e venceram ao diabo (Ap.12:11), pois sabiam manter seus olhos no Senhor.
Veja um exemplo disto:
"Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus.
Eles, porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e, unânimes, arremeteram contra ele.
E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo.
E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!
Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu."
Atos 7:55-60.
O relato bíblico diz que Estevão, cheio do Espírito, FITOU OS OLHOS NO CÉU. Algo que o Espírito Santo vai operar em nós à medida em que nos rendemos a Ele, é tirar nossos olhos do chão para o céu; das coisas terrenas para as celestiais. Estevão foi o primeiro mártir e nos deixou um modelo perfeito de vitória sobre o inimigo: seus olhos estavam em Deus, não no que é terreno. E neste texto tenho descoberto um princípio espiritual figurado muito forte: Quando nossos olhos estão no Senhor, somos anestesiados para os ataques malignos contra nossa vida!
Estevão foi milagrosa e sobrenaturalmente anestesiado por Deus contra as pedradas que o mataram; o texto diz que enquanto o apedrejavam ele invocava ao Senhor e orava, e mais: diz que ele se colocou de joelhos, e à semelhança de Cristo na cruz, pediu que o pecado de seus assassinos fosse perdoado. Ninguém que está sendo apedrejado faz isto; nossa imediata reação é cobrir o rosto e se proteger como puder; mas os olhos de Estevão não estavam em si mesmo, estavam nos céus, e em razão disto podemos dizer que ele foi fortalecido por Deus, ou até mesmo que foi "anestesiado".
Seria impossível em condições normais ele se ajoelhar e ficar olhando para o alto sem se defender, mas algo aconteceu com ele. E quando colocamos os nossos olhos no Senhor independentemente de que tipo de situação estamos enfrentando, algo também vai acontecer conosco; seremos confortados e anestesiados pelo Senhor, e Satanás não será vitorioso. Pelo contrário, nós é que seremos mais que vencedores!
No caso de Estevão, o que veio além da vitória não foi o tratamento, pois ele passou à glória celestial, mas além de vencedor ele recebeu um galardão mais glorioso. É isto que acontece com os mártires; Hebreus 11:35 diz que alguns não aceitaram seu livramento porque visavam uma maior recompensa.
Quando passamos pelas provas e tribulações, Deus não somente nos prepara a vitória que inevitavelmente virá, mas usa o tempo em que nela estamos para tratar com nossa alma. O Senhor lida com todo apego excessivo que temos nas coisas terrenas e nos ensina a ter os olhos n'Ele; isto é ser mais que vencedor, é ser tratado por Deus e chegar ao fim da adversidade melhor do que entramos.
ESPERANDO NO SENHOR
Se a vitória só vem no fim da prova, o que acontece até lá? Podemos dizer que o tratamento acontece dentro da prova, no tempo em que a pessoa está esperando o livramento de Deus. O que faz alguém mais que vencedor não é uma vitória imediata, no primeiro "round" da luta, por assim dizer; é justamente a espera que produz em nós este tratamento.
Vivemos na época dos instantâneos. Comida pronta congelada que em poucos minutos se prepara num microondas. Rápida locomoção e transporte, como o avião. Fac-símile, e outras coisas mais. Nossa geração não sabe ser paciente. Foi-se aquela época em que se fazia a massa do macarrão em casa antes de prepará-lo no almoço! E por causa disto não sabemos esperar; vivemos ansiosos, afobados e fazendo de tudo para ganhar tempo.
Só que quando as provas e tribulações chegam, achamos que as orações tem que ser todas instantaneamente respondidas e que tudo deve se resolver com urgência; mas como na maioria das vezes não acontece assim, acabamos nos desesperando. Precisamos aprender a esperar, pois a espera produzirá preciosos frutos em nós se o permitirmos.
Entre toda promessa de Deus e seu cumprimento há um intervalo chamado tempo. O tempo é o período de espera até que tudo se cumpra. O mesmo se dá na adversidade; entre o começo dela e seu fim (nossa vitória) há um intervalo chamado tempo, em que devemos esperar. A espera vai produzir mais resultados dentro de nós do que aquilo que veremos fora de nós neste tempo. Muita gente acha que a espera é uma desculpa dos que não crêem na intervenção imediata de Deus, mas na verdade ela é uma marca na vida daqueles que crêem!
Fé e paciência caminham juntas e não há meios de separá-las; vemos isto no ensino do Novo Testamento:
"Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas."
Hebreus 6:11,12.
Falando de perseverança, e de não se desesperançar em meio às lutas, o escritor desta epístola fala sob a divina inspiração que é preciso que sejamos diligentes e imitemos aqueles que pela fé e paciência herdam as promessas. Ou seja, não se herdam as promessas divinas apenas por fé, mas pela fé e paciência juntas! Isto não dá sustento à visão de uma fé automática, tipo varinha de condão das fadas madrinhas, mas leva-nos a ver que a espera faz parte do processo de intervenção divina em nossas vidas.
Abraão foi chamado pai da fé e deixou-nos um exemplo a ser seguido; vemos isto na carta de Paulo aos romanos, no capítulo quatro, quando após chamá-lo de pai da fé, o autor diz que devemos seguir as pisadas da fé de Abraão; e em Hebreus ele é novamente apresentado como exemplo: "E assim, depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa." (Hb.6:15). Quando Deus fez a Abraão a promessa de dar-lhe um filho, ele tinha 75 anos (Gn.12:4), mas quando a promessa se cumpriu ele já estava com 99 anos (GN.17:1), o que totaliza um período de espera de 24 anos!
O rei Davi também esperou muitos anos desde o dia em que Samuel o ungiu até aquele dia em que assentou-se sobre o trono de todo Israel. A espera não é sinal de derrota ou de falta de fé, mas parte da operação da própria fé. É o período quando Deus estará trabalhando mais dentro de nós do que fora. A espera nos amadurece para que possamos receber o que o Senhor tem para nós; não passar o período de espera significa não estar pronto para a herança.
O filho pródigo que o diga! Não quis esperar a hora certa de receber a herança, e ao antecipar-se ao momento devido, demonstrou não estar ainda preparado para o que tinha direito de receber. E justamente por não estar preparado acabou perdendo tudo: o dinheiro, o tempo fora de casa, sua moral e dignidade.
Verdadeiramente temos uma herança em Deus. Temos direito a tudo aquilo que o Pai Celestial nos tem prometido. Mas não encontramos em lugar algum da Bíblia qualquer alusão à posse instantânea delas. Quando esperamos em oração e fé algo da parte do Senhor, estamos amadurecendo para que possamos estar à altura daquilo que viermos a receber.
Não aprecio muito as campanhas promovidas por muitas igrejas que pregam a intervenção de Deus ao fim daquelas semanas; há momentos em que Deus tocará a pessoa na primeira oração que receber, e se isto não acontecer então precisamos ensinar esta pessoa a esperar no Senhor até que receba o que necessita. Não interessa se vai demorar um mês ou cinco anos! Temos que ensinar o processo da espera e perseverança. Para a maioria destas igrejas, o máximo que se espera são as semanas da campanha, depois, se nada aconteceu acaba ficando por isso mesmo...
A grande verdade é que tais campanhas exploram a credibilidade das pessoas e as amarram nas reuniões por mais tempo, forçando-as a permanecerem na igreja. Não podemos deixar de desafiar as pessoas a crerem que o milagre e a intervenção do Senhor pode acontecer de imediato; contudo não podemos dar nenhuma garantia de que sempre será assim. Haverá momentos de espera e neles Deus não agirá apenas nas circunstâncias externas, mas principalmente nos valores internos.
Tenho aprendido muito com Moisés neste assunto. Ele viveu cento e vinte anos, que se dividem em três períodos de quarenta anos. No primeiro período, o líder hebreu levou quarenta anos para achar que podia fazer a obra de Deus; seu engano foi apoiar-se em toda cultura, conhecimento, e educação que recebera no palácio de Faraó. Ao fim deste tempo tentou fazer a obra de Deus em sua própria força e capacidade e fracassou, o que o levou a fugir do Egito. Então iniciou-se o segundo período, e, ao fim destes quarenta anos, ele chegou à conclusão de que não podia fazer a obra do Senhor; mesmo quando o Anjo do Senhor apareceu na sarça e o comissionou, ele ficou se desculpando, alegando não ser a pessoa ideal para o papel; após este período ele descobriu que não podia fazer nada de si mesmo. E só então que o Senhor o envia a fazer, e o último período (quarenta anos) de sua vida foi gasto no ministério. Um ministério do porte do que recebeu Moisés não se forma da noite para o dia e nem em alguns anos de seminário! É necessário tempo, muito tempo para que toda a capacitação interior ocorra; é preciso esperar, pois é na espera que Deus forja o caráter.
Mas a espera, em algumas vezes, não envolve somente a dimensão pessoal. No caso de Moisés, seus oitenta anos de preparação não eram apenas em função do tempo de Deus na vida dele, mas também de outros fatores envolvidos na mesma história. Havia o tempo de Israel como nação; o Senhor já falara antecipadamente a Abraão que sua descendência seria escravizada: "Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas" (Gn.15:13,14).
Só que embora Israel tivesse seu tempo dentro do plano de Deus, isto não dizia respeito a ele somente, mas para que Deus os pudesse livrar do Egito e levá-los a possuir Canaã, havia uma outra questão ainda: o tempo dos povos que habitavam em Canaã; o Senhor disse, na mesma ocasião, à Abraão: "Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus" (Gn.15:16). Para tirar a terra dos cananeus e entregá-la ao povo de Israel, havia um tempo onde a longanimidade de Deus estaria em operação, depois este tempo se esgotaria quando eles enchessem a medida da ira divina, o que resultaria em juízo.
Ao dar a terra de Canaã aos hebreus, o Senhor não apenas cumpria seu plano na vida de seu povo, como também julgava aqueles povos que rejeitaram a Deus em seus pecados. Estas coisas aconteciam simultaneamente e tinham seu tempo. Mesmo antes de tudo isto ocorrer, mais de seiscentos anos antes, Deus já havia dito que seria assim. Ou seja, esta espera era necessária e não seria mudada. Foi o que o Senhor quis dizer ao anunciá-la previamente. Dentro de todo este contexto é que entrava o ministério de Moisés e foi por isso que ele não foi aceito antes, ainda não era a hora; mas quando o tempo chegou, Deus o levantou.
Precisamos aprender a esperar no Senhor. Davi declarou: "Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor" (Sl.40:1 - Revisada). Para um número considerável de pessoas entre o povo de Deus hoje, esta não é uma mensagem tão agradável, pois choca muito do que se tem ensinado por aí, mas é bíblica. E será também um remédio para muitos que estão em crise! Não pare de crer no que Deus pode e quer fazer em sua vida.
Se não acontecer imediatamente à sua oração, persevere em buscar ao Senhor e crer que Ele agirá. Espere n'Ele até receber e, quando tudo terminar, você verá que não somente terá vencido a tribulação como também terá se tornado mais que vencedor. Você terá sido tratado e trabalhado por Deus e, ao fim do período de espera, descobrirá que enquanto esperava no Senhor, Ele não apenas agiu nas circunstâncias mas também o levou a alcançar mais maturidade.
E aconteça o que acontecer, saiba que Deus é soberano sobre todas as coisas a ponto de levá-lo a lucrar em qualquer situação e que, se você não tirar os olhos d'Ele, nada poderá afastá-lo do amor e cuidado d'Ele. Nada!
"Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Romanos 8:38,39.