quinta-feira, 29 de agosto de 2013

E o Galo Cantou! Sinal da Traição!


 
O CANTO DO GALO 

 
          O agir de Deus é invisível aos nossos olhos. Está além da compreensão de nossa mente. A multiforme sabedoria divina sempre trará surpresas, não somente a nós como também ao adversário de nossas almas. 
 
          É lógico que dentro daquilo que a Palavra de Deus afirma claramente sobre Deus mesmo, ou acerca do Reino e seus princípios, não devemos esperar mudanças ou surpresas; por exemplo, se lemos na Bíblia que a salvação é pela graça mediante a fé, não há perigo de que o Senhor mude de idéia e anule o que está escrito.
 
          Quando falamos de um agir imprevisível, referimo-nos àquelas coisas das quais as Escrituras não falam claramente sobre como Deus agirá. Há assuntos dos quais sabemos que Deus tem um compromisso de agir por ter prometido isto; a questão não é se Ele agirá ou não, pois sabemos que certamente agirá, a questão é COMO fará, e não há como prevermos isto. 
 
          Entretanto, dentro desta visão de um agir invisível aos olhos humanos, a Bíblia revela princípios que podemos saber que se manifestarão em nossas vidas. Quando nos rebelamos, Deus trata conosco. Quando nos ensoberbecemos, Ele trata conosco também. Em várias circunstâncias a ação divina poderá se mostrar um tanto quanto misteriosa. 
 
          Gerações anteriores à nossa costumavam atribuir a Deus todas as coisas. Recentemente, Deus levantou muitos mestres e profetas que contribuíram com o Corpo de Cristo trazendo luz quanto a muitos princípios mal compreendidos, e pudemos ver que muitas vezes o diabo estava agindo em vidas não por uma permissão divina, mas por autorização da própria pessoa que quebrara princípios espirituais, dando assim lugar ao maligno. 
 
          E em meio a tantos princípios que vieram à luz, começamos a ir para o outro extremo; e uma figura distorcida de Deus começou a ser proclamada, como se seu amor fosse colocado em questão quando permitisse que passássemos por provas e tribulações. Antes, tudo parecia vir de Deus; agora, tudo parece vir do diabo! Mas a grande verdade é que nossos valores são tremendamente materialistas e corrompidos e nunca conseguimos ver os valores interiores de caráter que precisam ser formados em nós; e se esta formação de caráter nos custar perdas materiais, tenha certeza de que Deus não só a aprovará, como verá LUCRO nisto! 
 
          Neste capítulo quero partilhar um princípio que tenho aprendido com um dos meus pastores. Há momentos em que o Senhor quer que saibamos que nós não somos tudo o que pensamos ser. Nossa auto-suficiência e soberba impedem a ação de Deus em nós e através de nós. E quando viermos a nos encontrar em situação de perigo devido a estes sentimentos enganosos e ocultos em nossa alma, podemos ter certeza de algo: o Senhor tratará conosco! 
 
          O título deste capítulo é uma referência a como Deus tratou com Pedro na ocasião em que ele negava a Cristo e o galo cantou.
 
Convido-o a examinarmos a vida deste apóstolo e aprendermos com ele acerca disto.
OS DISCÍPULOS ERAM HOMENS FALHOS
Tiago, irmão do Senhor, escreveu acerca do profeta Elias, um dos maiores vultos do Velho Testamento: "Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos..." (Tg.5:17).
 
          Uma outra versão diz que "era sujeito às mesmas paixões". A tradução de J. B. Phillips diz que "ele era alguém tão humano quanto nós"! Isto deixa bem claro como foi cada um dos homens a quem Deus muito usou em toda a história: frágeis, falhos, tentados, limitados em si mesmos. Não eram os super-heróis ou semi-deuses que pintamos em nossa imaginação. Cada um deles foi usado por Deus por dispor-se, anular-se, e deixar ser tratado. 
 
          Entre os doze apóstolos havia muita coisa humana, falhas na alma e no caráter que precisavam ser corrigidas. O sentimento de terem sido os escolhidos do Messias certamente afetou a cada um deles. A honra de ter a constante companhia e intimidade de Jesus, de verem seus milagres e prodígios, e também de serem usados por Deus para operação de maravilhas é uma descarga poderosa em cima do ego de qualquer um. E, inicialmente, eles ainda não sabiam como lidar com isto; a sensação de grandeza e superioridade penetrou o interior deles, e pode ser claramente vista em alguns episódios narrados nos evangelhos. 
 
          Em determinada ocasião, dois deles, sem ainda entender a natureza do Reino que Jesus estava proclamando, quiseram tornar-se os dois homens mais influentes depois de Jesus em seu reinado:
"Então, se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir.
E ele lhes perguntou: Que quereis que vos faça?
Responderam-lhe: Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda.
Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado?
Disseram-lhe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o cálice que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou batizado; quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha esquerda, não me compete concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado.
Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João."
Marcos 10:35-41. 
 
          Observe que os outros dez se indignaram contra Tiago e João, mas não por aceitarem o que Jesus lhes falara, e sim porque cada um deles também estava tomado do mesmo sentimento egocêntrico e soberbo. O restante da narrativa de Marcos mostra que Cristo teve que chamá-los para junto de si e estabelecer a ótica correta quanto ao ministério, que é baseada no serviço e não na posição:
"Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade.
Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos.
Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos."
Marcos 10:42-45. 
 
          Em meio a este desejo de ser, a esta ânsia de posição, poder e prosperidade, Tiago e João, filhos de Zebedeu foram confrontados por Jesus com a afirmação de que posição como a que eles haviam pedido Ele não podia lhes prometer, mas beber do seu cálice (e isto fala de sofrimento) era algo que eles podiam ter certeza que experimentariam. 
 
          Em nossos dias, estimulamos muito a busca de poder e prosperidade como se isto fosse a coisa mais importante que um cristão pudesse vir a experimentar, mas Deus está levantando seus profetas para declarar que Ele espera que bebamos o cálice das provações e saiamos não só como vencedores ao fim delas, mas tratados por Ele! Assim como o ouro provado no fogo se torna mais limpo, também sob o tratamento de Deus em meio à adversidade e crises (externas e internas) seremos também aperfeiçoados. E isto faz parte do agir divino. 
 
          Até esta hora, contudo, os discípulos que Jesus escolhera ainda não haviam sido trabalhados interiormente neste sentido. E o curioso é que o próprio evangelista Marcos relata no capítulo anterior que tal problema já havia se manifestado no meio dos doze e que Jesus por sua vez também já interviera ensinando-lhes os conceitos corretos; mas eles só tinham ouvido o Senhor, ainda não tinham aprendido.
 
Observe:
"Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho?
Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior.
E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos."
Marcos 9:33-35. 
 
          Lucas também nos mostra este tipo de sentimento entre os apóstolos: "Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior." (Lc.22:24). O que precisamos notar é que este sentimento de grandeza entre eles era algo que cada um já carregava dentro de si quando Jesus os chamou, mas que certamente só se manifestou depois disto. Tente imaginar-se no lugar de Pedro na pesca milagrosa, e imagine que história de pescador isto não daria! 
 
          Coloque-se no lugar dele e tente imaginar-se andando sobre as águas, coisa da qual não se ouvira dizer que um vivente experimentara. E o que não dizer da multiplicação de pães, das curas, libertações, e tantos outros milagres! Mas não era só isto; eles eram os escolhidos do Messias e estavam sendo preparados para uma tarefa ainda maior... O coração de cada um deles começou a se ensoberbecer, e começaram a pensar de si mesmo mais do que realmente eram. 
 
          Eles haviam se tornado tão importantes, que nenhum outro poderia fazer o que Jesus lhes mandou fazer. Externaram este sentimento que neles estava na primeira ocasião que surgiu:
"Disse-lhe João: Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco.
Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim.
Pois quem não é contra nós é por nós."
Marcos 9:38-40. 
 
          Só eles podiam fazer aquilo; outra pessoa não! Ninguém poderia brilhar como eles brilhavam ao lado de Jesus. Este sentimento que tinham é externado diversas vezes. Quando uma aldeia de samaritanos não quis receber Jesus, dois deles quiseram orar para que descesse fogo do céu e os consumisse. Propuseram isto a Jesus imitando o estilo de Elias. 
 
          Ao falarem assim, não estavam apenas demonstrando ser guardiões da "reputação" de Jesus, mas já se achavam tão "homens de Deus" quanto Elias. Precisamos ter muito cuidado quando crescemos em Deus, para que o diabo não encha os nossos corações de orgulho. Contei como o anjo de Deus se referiu ao meu ministério na época em que me acidentei. O Senhor permitiu e usou aquilo para que eu não crescesse ao ponto de ensoberbecer e cair. Nunca achamos que isso possa acontecer conosco; é sempre com os outros, nunca conosco! Mas as Escrituras advertem que quem está em pé deve cuidar para que não venha a cair (I Co.10:12).
 
          Este sentimento foi se avolumando nos apóstolos até este nível de cegueira, em que a pessoa acha que a queda pode acontecer com os que estão à sua volta, mas não consigo mesma. Vejamos isto de forma específica na vida do apóstolo Pedro:
"Então, lhes disse Jesus: Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas. Mas, depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galiléia.
Disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!
Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes.
Mas ele insistia com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei. Assim disseram todos.
Marcos 14:27-31. 
 
"Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!" Você percebe esta mentalidade em Pedro? Ele se achava tremendamente fiel ao Senhor, mas estava prestes a descobrir que não era tudo o que pensava ser. E embora nosso enfoque esteja em Pedro, que se achou melhor que os outros, note que cada um deles disse que se preciso fosse morreria com Jesus. Eles realmente acreditavam em sua espiritualidade e fidelidade! Mas na hora em que Cristo foi preso, todos fugiram (Mc.14:50). 
 
Nenhum deles ficou por perto. "Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo." (Mc.14:54). Mesmo não abandonando completamente a Jesus, Pedro permaneceu à distância, de onde pudesse satisfazer sua curiosidade do que viria a ocorrer, mas ao mesmo tempo salvar sua pele. E foi este distanciamento que o levou ao passo seguinte, já antes profetizado pelo Mestre: negar três vezes a Jesus. 
 
"Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno.
Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. [E o galo cantou.] E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. 
 
Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu.
Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!
E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar."
Marcos 14:67-72. 
 
Mateus em seu relato declara que Pedro chorou amargamente. Marcos enfatiza que ele irrompeu em prantos assim que "caiu em si".

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