PENSAMENTOS MAIS ALTOS DE DEUS
Nossos olhos não alcançam a esfera da operação de Deus porque ela está num plano superior. Uma outra razão bíblica - além do exercício da fé - que encontramos para o fato de o Senhor agir num plano invisível aos nossos olhos, é que seus pensamentos são mais elevados que os nossos. A mente de Deus é infinitamente maior que a nossa e sua sabedoria é tão gigantesca que não há como dimensioná-la.
Esperar que Ele aja de forma que nós entendamos é limitar e rebaixar grotescamente seu agir. A maneira de nosso Senhor agir transcende o limite humano de compreensão. Quando as Escrituras falam dos caminhos de Deus mais altos que os nossos, relaciona este fato com o de seus pensamentos também serem mais altos que os nossos:
"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos."
Isaías 55:8,9
Podemos afirmar com toda certeza que o fato de Deus agir por caminhos mais altos (e isto deriva-se do fato de que seus pensamentos também são mais altos) deve-se à sua infinita capacidade de gerenciar todas as coisas. Quando pensamos na resposta para o nosso problema nossa mente limitada e egoísta só vê isto; mas quando Deus pensa na resposta do nosso problema, não pensa só nisto, mas vai além, muito além... Ele consegue propor respostas que não se limitem só ao momento e consequência, mas que toquem a causa do problema e tenham também o poder de continuar agindo em nós quando o que considerávamos problema já não estiver mais presente. Também podemos sugerir que além de nos tocar isoladamente, Ele ainda pode estar propondo soluções que não envolvam somente a nós, mas também outras pessoas.
Deus pode ainda estar tocando não só uma área problemática, mas toda uma rede de outros problemas interligados ao que nos incomodava mais. Ou tocar valores e escolhas erradas que permitiram a entrada e instalação do tal problema. E mais, muito mais!
Nossa mente pode fazer uma grande e abrangente lista, mas não interessa o quão longe nossa perspicácia e raciocínio nos levem, jamais chegaremos perto da forma de pensar de Deus que é muito mais elevada. A sabedoria de Deus nos é apresentada na Bíblia como tendo muitas formas. Em Efésios ela é denominada como a MULTIFORME sabedoria de Deus. Isto fala de uma sabedoria que não é limitada, mas que se abre num leque infinito de dimensões da operação divina. Esta ilimitada sabedoria pluraliza a resposta de Deus para cada problema ou obstáculo que o ser humano enfrenta; em vez de tocar de forma direta numa única questão, Deus tem o poder de trazer várias intervenções nas situações em que jamais enxergaríamos a necessidade disto.
Considere também que o Senhor conhece o futuro, coisa que homem algum e nem mesmo o diabo tem capacidade de conhecer; portanto a ação de Deus não está voltada somente ao já e ao agora, mas ela se estende para o futuro e sempre priorizará o nosso melhor sob uma visão global, mais abrangente do que jamais nossa mente poderia alcançar. A atuação de Deus é integrada e sinérgica. Para o ser humano, o desvendar de mistérios parece ser algo de suma importância. Deus, por outro lado, parece fazer questão de ocultar algumas coisas, especialmente aquilo que diz respeito à sua ação em nossas vidas. Salomão foi um homem sábio e inquiridor, mas enxergou em Deus esta característica e a mencionou não apenas no livro de Eclesiastes, mas também no de Provérbios:
"A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinhá-las."
Provérbios 25:2.
Esquadrinhar não é coisa somente dos reis, mas de todo ser humano; só que no caso dos reis da antiguidade, quanto mais conhecedores dos mistérios eles eram, mais respeito ganhavam do povo. Mas esquadrinhar é algo que está ligado ao homem de forma geral; todos queremos entender bem e saber explicar as coisas, e diante disto, esta forma de Deus operar parece ser inaceitável à nossa própria carne. Gera lutas, mas precisamos aprender a superá-las e descansar em fé no Senhor.
É engraçado. Parece que quanto mais tentamos entender o agir de Deus, menos conseguimos enxergá-lo. Vemos um acontecimento bíblico que exemplifica isto. É o episódio da aparição de Jesus aos dois discípulos no caminho de Emaús. Este texto mostra que temos a tendência de traçar nossos próprios planos para o agir de Deus. É como se, inconscientemente, estivéssemos dizendo a Deus como Ele deveria agir. Nos fixamos tanto em esperar que Ele aja de determinada maneira que, ao agir diferente do que esperávamos, não o conseguimos ver. Precisamos aprender a esperar pelo agir de Deus sem nos prendermos ao modo como Ele agirá.
ESPERÁVAMOS QUE FOSSE
Este episódio se deu após a morte e ressurreição de Jesus, quando dois discípulos caminhavam tristes para Emaús, não sabendo que Cristo havia ressuscitado, e o próprio Jesus aparece a eles, mas NÃO PUDERAM reconhecê-lo, pois seus olhos estavam fechados:
"Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas.
Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles.
Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer."
Lucas 24:13-16.
Repare que o texto diz que os olhos deles estavam impedidos de reconhecê-lo. Não sei se você já parou para pensar porque estavam impedidos, mas eu já. Durante muito tempo eu achei que Jesus não quis que eles o reconhecessem, ou que Ele talvez estivesse diferente depois da ressurreição, mas o fato é que não ocorreu nem uma coisa e nem outra.
Diferente Jesus não estava, pois quando aparece ao restante dos discípulos Ele mostra até mesmo as cicatrizes da ferida que lhe fizeram ao lado como também as dos cravos nas mãos e nos pés; o corpo ressuscitado era o mesmo em sua aparência.
A continuação do texto nos mostra porque eles não podiam ver que era Jesus:
"Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.
Um, porém, chamado Cleopas, respondeu, dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?
Ele lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam."
Lucas 24:17-21.
Os dois discípulos estavam tristes e abatidos e Cristo se faz de alheio e lhes pergunta porque estavam com o semblante daquele jeito; na resposta que dão, percebemos que eles tinham uma expectativa com relação a Jesus e que a crucificação tinha arrebentado com ela! Os judeus em geral esperavam um Messias que se manifestaria como um general de guerra e que os livraria do domínio dos romanos para estabelecer seu próprio reino. É por isso que Tiago e João pediram, numa certa ocasião, que quando Cristo se assentasse no trono de sua glória, que eles pudessem assentar-se um à direita e outro à esquerda d'Ele; imaginavam um reino físico e, ao lado do rei, queriam ser ministros da fazenda e do planejamento!
Cleopas e seu companheiro demonstram claramente sua frustração ao concluírem com estas palavras: "esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam".
O que eles estavam dizendo?
Que achavam que através dele viria a redenção (física) de Israel, mas já fazia três dias que ele havia sido morto; ou seja, esperavam que fosse ele, mas não foi... Era mais ou menos isto que davam a entender.
A expressão "esperávamos que fosse" é a chave aqui. Eles tinham uma expectativa de como Deus iria agir, mas Deus agiu diferente do que eles esperavam. Enquanto esperavam um reino físico só para Israel, Jesus estava cuidando da redenção dos pecados de toda a humanidade e estabelecendo o aspecto espiritual do reino. Em seu retorno a esta terra Ele vai estabelecer o aspecto físico do reino, mas a primeira vinda não envolvia este aspecto.
Só que os discípulos estavam tão fixados nesta idéia que não conseguiam ver Deus agindo de outra forma! Achavam que a morte de Jesus na cruz tinha sido uma derrota e não conseguiam imaginar Deus no controle dela; e porque só esperavam o agir de Deus de uma única maneira, não podiam ver o que Deus estava fazendo de modo diferente do que haviam pensado.
Assim também é conosco. Fantasiamos tanto o agir de Deus, criamos as hipóteses de como faríamos se nós fôssemos Deus; fazemos nossos planos, fixamo-nos em nossas idéias, e no fim das contas quando o Senhor acaba agindo de modo diferente não conseguimos vê-lo em ação! Quero desafiá-lo a parar de tentar ensinar Deus como fazer as coisas quando você ora por algo. E mesmo quando você não o faz verbalmente, acaba fazendo com os pensamentos. E por se fixar tanto na espera de uma única forma de atuação divina, seus olhos não reconhecem quando Deus está operando de maneira diferente.
Muitas vezes não podemos ver o agir de Deus porque realmente Deus o ocultou, mas há momentos em que nós nos excluímos da possibilidade de ver por ficarmos tão presos ao que esperávamos d'Ele. Foi só depois que Jesus lhes explicou biblicamente o que devia acontecer com o Cristo, e demonstrou pela sua conhecida forma de partir o pão que era Ele falando com eles, que os olhos deles se abriram! Pois agora já não mais esperavam o general de guerra, mas o Cristo crucificado e ressurreto; e quando começaram a esperar que Deus agisse exatamente como estava agindo, já não havia mais o que os impedisse de ver.
Eu senti o mesmo que estes dois discípulos sentiram. Eu nunca esperei que Deus pudesse agir em circunstâncias aparentemente negativas; e em momentos em que Ele estava operando em minha vida de forma diferente da qual eu esperava, não podia ver que era Ele. Um impedimento estava sobre os meus olhos e não me permitia ver Deus comigo. Eram os conceitos errados e fantasiosos que eu mesmo criara de como deveria ser a ação de Deus naquele momento. Mas assim que o Senhor começou a me fazer entender a Palavra, e que havia maneiras diferentes d'Ele agir, meus olhos se abriram e pude reconhecê-lo comigo nas horas em que não parecia que Ele estivesse.
E foi exatamente assim que se deu com os discípulos:
"E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles.
Lucas 24:30,31.
Em nossa ânsia de querer compreender tudo de forma racional, esta forma de agir de Deus não parece ser algo assim tão bom. Contudo, à medida em que trazemos mais luz da Palavra sobre esta forma divina de trabalho, percebemos quão linda e inspiradora ela é!
O que inicialmente quero estabelecer (não explicar) é que isto é um princípio. O agir de Deus é invisível, e está fora do alcance da nossa vista. E isto se deve a várias razões. Mencionamos a necessidade de um andar pela fé. Falamos sobre os pensamentos de Deus serem mais altos e não podermos compreender sua multiforme sabedoria e a pluralidade das respostas que Ele traz numa única circunstância.
E falamos, também, que muitas vezes somos tão limitados pela nossa maneira de pensar, em como Deus deveria agir, que quando Ele trabalha de modo diferente não o conseguimos ver. Mas em tudo isto o que mais quero destacar é a enorme e indizível diferença que há entre a nossa forma de pensar e a de Deus em sua multiforme e infinita sabedoria.
Só que esta vantagem divina de pensamentos mais altos não é só sobre o homem mas, também, sobre Satanás e seus demônios...
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