quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O Agir de Deus e a Expansão da Fé


Introdução 
 
          Sei que para a maioria dos leitores estas verdades serão recebidas como um bálsamo divino. E oro para que sejam um instrumento de restauração e edificação em sua vida. 
 
          É também uma tentativa de mostrar que nosso atual universo de raciocínios e explicações dos fatos da vida cristã está longe de ser completo; é limitado, pobre, cego, e deve nos lembrar de que carecemos buscar em Deus mais revelação de sua Palavra. 
 
          Vivemos dias em que a fé evangélica tem crescido e se espalhado grandemente. Graças a Deus por isto! Mas temos que reconhecer que este crescimento numérico tem se dado numa velocidade e intensidade muito maior do que a capacidade da Igreja de fazer crescer em maturidade. O próprio crescimento gera inúmeros problemas e, na busca de uma melhor acomodação dos novos convertidos para que não se perca a oportunidade de crescer, uma nova geração de ministros está sendo formada. 
 
          Não com um embasamento forte na Palavra, mas com o estritamente necessário para atender a demanda. E isto tem trazido ao arraial do povo de Deus um evangelho diluído, simplista. Há uma diferença entre o evangelho simples, que toca o homem diretamente nas suas necessidades e que dispensa qualquer intelectualismo, de um evangelho simplista que tenta dar respostas diferentes da Bíblia, e que ao tentar simplificar as questões esquece-se que está lidando com gente que pensa, que tem emoções, sentimentos. 
 
          E assim estamos edificando uma geração confusa, machucada, cheia de dúvidas e até de descrença - embora para se fugir do inferno as pessoas aprendam a conviver e até mesmo conformar-se com elas. Algo precisa sacudir-nos de nossa prepotência de acharmos que podemos entender Deus e sua forma de agir e ditar sempre e até antecipadamente como serão as coisas. Se algo acontece com alguém, sabemos porquê aconteceu; se deixa de acontecer sabemos exatamente o porquê não aconteceu; temos respostas para tudo! 
 
          Não posso negar que o reino espiritual é regido por princípios, e que sempre tais princípios serão imutáveis; mas há uma grande diferença entre vê-los funcionando e achar que são eles em operação! 
 
          Por exemplo, se alguém peca contra Deus, vai colher as consequências, que variam em função do comportamento da pessoa, se ela se arrepende ou não. Davi pecou adulterando e matando um amigo, foi perdoado por Deus (o que remove a mancha da culpa) mas colheu as consequências que lhe foram anunciadas pelo profeta Natã. Em uma outra situação (na carta à igreja em Tiatira) vemos Jesus repreendendo o pecado de uma mulher chamada Jezabel, e dizendo que no caso dela não se arrepender, seria julgada e prostrada de cama, num leito de enfermidade. 
 
          O pecado sempre tem consequências. Se me arrependo sou perdoado mas, ainda assim, colho as consequências. No caso de não me arrepender serei julgado. São situações diferentes, mas sempre haverá consequência. Pelo pecado de alguém podemos saber que haverá consequências e até prevenir a pessoa disto, mas o que não posso aceitar é a análise inversa; pelas circunstâncias que alguém está vivendo, tentar dizer se ela está ou não em pecado. É um campo onde não podemos entrar, além de que não cabe a nós julgar! 
 
          A Igreja do Senhor tem falhado muito nesta matéria nestes dias... São respostas simplistas para tudo. Se alguém não recebeu a resposta à sua oração, é falta de fé. Se algo negativo aconteceu foi o diabo e é porque houve brecha espiritual. Se as coisas não estão bem é porque a pessoa está em pecado. E assim por diante. Muitas vezes o que está acontecendo PODE ser uma destas coisas, mas não quer dizer que seja sempre só isto! 
 
          Não podemos nos considerar doutores na psicologia divina. Alguns são assim, parece-nos que chegam ao ponto até mesmo de se antecipar ao que Deus vai fazer. Neste caso Ele fará assim, no outro fará assado... mas os caminhos de Deus são mais altos que os nossos e seus pensamentos também! Paulo declarou aos coríntios: "Se alguém julga saber alguma cousa, com efeito não aprendeu ainda como convém saber" (I Co.8:2). Ninguém pode agir como um "sabe-tudo" em relação às coisas de Deus, principalmente em relação ao seu agir que é personalizado.
Voltemos a confiar na soberania de Deus e a aceitar que nem sempre teremos as respostas, mas sempre poderemos caminhar na certeza de que Ele tem o melhor para nós, quer o entendamos, quer não. 
 
 
 
O Agir Invisível de Deus 
 
           Nossa reflexão bíblica começa com um texto escrito pelo homem que foi considerado o mais sábio em toda história da humanidade: Salomão. Não penso ser coincidência que Deus o tenha escolhido para escrever acerca disto; na verdade não acredito em coincidência; a definição dela que aprendi com outros irmãos em Cristo é que coincidência é a obra divina onde Deus não reclama a autoria.
 
          O fato é que o rei Salomão era a pessoa mais indicada para nos dar a pista de que o agir de Deus nem sempre é visto e compreendido pelo homem, não importando quão sábio ele seja. Observe:
"Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas."
Eclesiastes 11:5. 
 
          Três coisas são mencionadas como algo que "não sabemos": o caminho do vento, a formação dos ossos de uma criança ainda no ventre materno, e o agir de Deus. Na verdade, com a expressão "não sabes", entendemos que o escritor falava de coisas que "não vemos". Podemos saber o caminho do vento através do balançar das folhas de uma árvore, pelas evidências de que ele sopra, mas nunca por ser visível aos nossos olhos. O caminho do vento em si é algo oculto à nossa visão, ocorre fora do alcance da vista dos olhos. 
 
          Semelhantemente, a formação óssea de um bebê ocorre fora da vista dos nossos olhos; não podemos ver como ela se dá. Creio que a expressão "não sabes" que o rei sábio usou estava apontando para "o que não vemos", senão nem contemporânea seria esta afirmação, pois hoje a ciência tem trazido uma perfeita explicação da formação óssea do feto; podemos "saber", mas continuamos impedidos de ver
 
          
          Com o agir de Deus não é diferente. O texto bíblico diz que Deus age em todas as coisas. Depois o versículo nos deixa claro que as duas menções anteriores de coisas ocultas aos nossos olhos, eram apenas um paralelo que ilustra o agir divino. Deus age sempre e em todas as coisas, porém, nem sempre este agir será visível aos nossos olhos, pois o que o caracteriza é esta sua definição bíblica de que é invisível. 
 
          Em nossos dias tenho visto o prejuízo da falta de conhecimento deste princípio e também da falta de temor de Deus. Como pastor ouço pessoas dizendo coisas absurdas com: "Ah, eu já coloquei Deus na parede; se em tanto tempo Ele não me atender, eu...". Dá vontade de dizer para alguns: - "Você o quê? Que ameaça é esta? Se Ele não fizer o que você quer, você faz o quê? Dá as costas para o Senhor e vai para o inferno? Quais são suas opções?" 
 
          É incrível a falta de respeito com a qual muitos se dirigem a Deus. Os papéis andam trocados. Pelo comportamento destas pessoas parece até que Deus já não é mais Senhor, mas simplesmente um secretário. Está errado; quem está na condição de servo somos nós e não Ele!
Sabe, há o ensino bíblico da fé, e eu creio nele, pois afinal de contas o que é bíblico é o conselho de Deus e ponto final. Creio no que Jesus ensinou sobre falar à montanha; creio em dar ordens aos problemas e obstáculos para que se movam de nossas vidas e sejam lançados no mar. 
 
          Contudo, é um absurdo confundir as coisas e achar que podemos dar ordens para Deus! Ninguém dá ordens a Deus. Diante dele todos devem se calar. Ele é soberano. Ele é santo. Ele é Deus. Ele é todo suficiente. Faz o que quer, como quer, quando quer. A Igreja precisa reaprender isto! Sei que há promessas e princípios bíblicos que já são uma revelação da vontade divina, e que em situações onde eles podem ser indiscutivelmente aplicados, não precisamos orar para descobrir qual é a vontade do Senhor e o quê Ele quer fazer. Mas mesmo quando já sabemos o quê Ele quer fazer, nem sempre poderemos entender COMO Ele vai fazer o que quer, ou mesmo QUANDO isto se dará.  A forma de agir de Deus nunca foi e nunca será previsível. O homem não pode compreender o agir de Deus com sua mente e raciocínio, pois a operação de Deus está muito acima do nosso entendimento. 
 
          Quando Salomão mencionou o agir invisível de Deus, não disse que o Senhor deixa de agir nas circunstâncias onde pareça ausente, mas sim que nós não podemos VER sua operação. Não se trata de Deus deixar de agir, mas sim de fazê-lo de tal forma que nós não o vemos em ação. 
 
          Em lugar algum da Bíblia nos é apresentada uma ação divina padronizada. Não vemos o Senhor lidando com as pessoas por atacado, mas justamente o oposto. Cada pessoa e cada situação é tratada por Deus com carinho e criatividade. Há um agir personalizado e isto é inegável. Mesmo nas guerras e batalhas (acontecimentos muito comuns e repetidos nas páginas do Velho Testamento), nunca vemos duas intervenções divinas que sejam iguais. Para cada situação houve uma intervenção diferente, embora os resultados finais fossem similares. O que concluímos é que mesmo quando a vontade expressa de Deus era livrar seu povo das mãos do inimigo, a forma como Ele faria era sempre um mistério. Ou seja, mesmo quando sabemos o quê Ele quer fazer, não podemos saber como irá fazê-lo. 
 
          O que necessitamos então, é parar de achar que Deus nos deva satisfação do seu agir. Ele age sempre e em todas as coisas (circunstâncias). A parte que nos cabe é crer e esperar sua manifestação, e não exigir que o Senhor mostre qual a forma de operar que foi adotada. Há muita gente cobrando de Deus uma explicação para o que eles não entendem. Só que o Pai nunca prometeu que daria explicação de como Ele estaria operando. As únicas coisas das quais Ele falou foi que podíamos ter como certo é que Ele agiria, e enquanto Ele trabalhasse de forma INVISÍVEL aos nossos olhos, que nós crêssemos. 
 
          Um exercício contínuo de fé. Aliás, quero chamar sua atenção para a importância do fator confiança. Deus espera que nosso coração repouse Nele em todo o tempo e circunstância, e escolher um agir invisível aos nossos olhos é um belo treinamento para a nossa fé! Talvez esta seja uma das razões porque o Senhor tenha escolhido agir assim: exercitar continuamente nossa fé. E a definição bíblica de fé é esta: 
 
"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem."
Hebreus 11:1 
 
          Crer no agir de Deus é ter a convicção de algo que não se vê. Nosso irmão Paulo disse aos coríntios que "andamos por fé e não por vista" (II Co.5:7). A lição que o Senhor Jesus deu a Tomé após sua ressurreição é mais um atestado disto. A fé nunca se baseia no que vê, mas na certeza de que o que Deus prometeu é um fato e terá seu cumprimento. 
 
          Ora, estas coisas se aprendem logo no início da caminhada cristã e não são difíceis de aceitar; tampouco geram discussões entre o povo de Deus, pois são indiscutíveis. Mas na hora em que alguém está em aperto e não consegue ver Deus agindo (pois Seu agir é oculto aos nossos olhos), esta pessoa se esquece rapidamente disto! 
 
          Ninguém tem o direito de exigir do Senhor satisfação sobre sua maneira de agir. Primeiro, porque Ele é Senhor e não está em posição de ser questionado. Segundo, porque Ele nunca prometeu que alguém veria sua forma de agir; pelo contrário, ensina-nos em sua Palavra que seu agir é invisível aos nossos olhos e que nossa caminhada deve ser por fé e não por vista.
Ou seja, não devemos esperar ver, mas somente crer na fidelidade Daquele que prometeu agir em todas as coisas. Concluindo, Ele não tem nenhum compromisso de ter que explicar como está agindo, embora nós tenhamos a responsabilidade de permanecer em fé mesmo sem que haja evidência visível da operação de Deus. 
 
          Desde o início do relacionamento de Deus com os homens, vemos esta dificuldade humana de crer no invisível e a insistência divina de que deve ser assim. Quando Deus se manifestou de uma forma tão intensa a todo povo de Israel que saíra do Egito, absteve-se de aparecer em alguma forma para que não tentassem imitá-la depois na forma de ídolo:
"Então, o SENHOR vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma.
Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o SENHOR, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra."
Deuteronômio 4:12, 15-18. 
 
          O que este episódio retrata é a dificuldade que todo ser humano tem de confiar naquilo que não vê. O Senhor escolheu esta dimensão de relacionamento baseada na fé e confiança. E cada vez que Ele age sem que nossos olhos vejam ou nossa mente compreenda, está proporcionando-nos um exercício de fé. Na verdade, como Ele age sempre assim, proporciona-nos um exercício contínuo de fé! 
 
          O homem tem dificuldade de aceitar isto; vive tentando criar atalhos e se dá mal, pois quando entra num caminho que Deus não abriu, acaba indo cada vez para mais longe d'Ele. A idolatria em todo o mundo é prova disto; cada povo e cultura, em todos os períodos da história tem conhecido a fabricação de ídolos. 
 
          É um meio de tornar a fé visível e palpável; acham mais fácil crer no que se vê (ainda que seja um pedaço de pau ou de gesso) do que naquilo que é invisível. Mas Deus tem se revelado assim e quem quer relacionar-se com Ele tem que submeter-se a isto. E cada vez que nós, cristãos, murmuramos por não termos evidências aos nossos olhos para o agir de Deus, estamos incorrendo no mesmo erro dos idólatras! Parece mais ameno, mas a premissa é a mesma e se não cuidarmos, entristeceremos ao Senhor e nos afastaremos dele.
O não sabermos COMO Deus agirá não é, em momento algum, uma incerteza quanto ao fato de se Ele vai agir ou não; é somente a expectativa de como Ele nos surpreenderá com os caminhos que escolheu ao intervir em cada nova circunstância de nossa vida. 
 
          Devemos depender inteiramente do Senhor e aprender a exercitar continuamente nossa fé. Nos dias do ministério terreno de Jesus houve pessoas a quem Ele criticou por sua pequena fé e houve algumas a quem Ele elogiou por sua grande fé. Mas houve uma pessoa, da qual Cristo disse não ter achado fé semelhante a dele em todo Israel. 
 
         Era um centurião romano. Em Mateus 8:5-13 podemos ler sobre o pedido dele para que Jesus curasse um criado seu, e no momento em que Cristo se dispõe a ir a sua casa, este homem reconhece que isto nem era preciso e diz que se Jesus dissesse apenas uma palavra seria suficiente para que o milagre acontecesse, pois quando alguém está investido de autoridade suas ordens tem que ser obedecidas. Este centurião não quis nenhuma evidência visível; sua fé estava apoiada na Palavra de Cristo e isto bastava. Jesus disse que este foi o mais alto nível de fé que Ele encontrou. É neste nível que devemos nos sentir desafiados a nos mover quanto às coisas do Senhor! 
 
          Não devemos e não podemos agir tentando nos apoiar no que é visível, mas crer e depender inteiramente do que Deus tem dito em sua Palavra. E, à medida em que procedemos assim, exercitamos nossa fé. De fato, confiar em Deus sem depender de um testemunho visível é um exercício de fé. E repito: como Deus age sempre assim, então, o que teremos será um exercício contínuo de fé! 
 
 

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