sábado, 21 de setembro de 2013

Na Verdade não há nenhum Justo, nem sequer um!...

O texto de nossa mensagem encontra-se na epístola aos Romanos, capítulo quatro, versí­culo cinco:
"Porém, ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada para justiça."
     Considere estas palavras: "Aquele que justifica o ímpio". Elas soam aos meus ouvidos como palavras admiráveis.
 
     Não te surpreende a existência delas na Bíblia? "Aquele que justifica o ímpio"? As vezes, ouço que os homens que odeiam a doutrina da cruz, a citam como um escrito difamatório contra Deus, dizendo que ele salva os iníquos e recebe até mesmo o mais vil dos vis. Veja, agora, como esta passagem que te apresentei, aceita o escrito difamatório, e claramente, o estabelece! Pela boca de seu servo Paulo, pela inspiração do Espírito Santo, Deus toma para si mesmo o título de "Aquele que justifica o ímpio".

     Ele torna justos aqueles que são injustos, perdoa aqueles que merecem punição e favorece aqueles que não merecem favor. Pensa, não é verdade, que a salvação era para os bons? Que a graça de Deus era para os puros e santos, livres do pecado? Havia imaginado que, se fosse excelente, Deus haveria então de recom­pensar-te, e que, por não ser digno, não há possibi­lidade de desfrutar de Seu favor. Deve estar de algum modo surpreso com a leitura deste verso: "Aquele que justifica o ímpio".

     Não me espanta o seu espan­to, pois, apesar de toda a minha familiaridade com a abundante graça de Deus, também nunca deixei de me maravilhar com ela. Parece surpreendente, não é verdade, que um Deus Santo, justifique um homem pecador? Nós, de acordo com a legalidade de nosso coração, estamos sempre falando da nossa própria bondade e de nossos próprios méritos, e teimosamente nos referimos a isso para dar a entender que há alguma coisa em nós digna de chamar a aten­ção de Deus. No entanto, Deus, que vê através de todas as decepções, sabe que não existe em nós nenhuma bondade. Diz ele: "Não há nenhum justo, nem sequer um".
 
      Ele sabe que "todas as nossas justiças são como trapo de imundície"; portanto, o Senhor Jesus não veio a este mundo procurar bondade e justiça entre os homens, mas trazer a bondade e a justiça com Ele, e concedê-las às pessoas que não as têm. Ele veio, não porque somos justos, mas para nos tornar justos: Ele justifica o ímpio.
 
           Quando um advogado aparece perante a corte em defesa de alguém, se for um homem sincero, empregará esforços para provar sua inocência e justificá-lo perante o tribunal das coisas que lhe são falsamente atribuídas. Pois o propósito de um advo­gado deve ser sempre justificar o inocente e nunca obscurecer suas culpas. Não está nem no direito nem no poder do homem justificar verdadeiramente o culpado. Este milagre pertence só a Deus. Deus, o eterno, sabe que não há um homem justo sobre a terra, que faça o bem e viva sem pecado; portanto, na soberania infinita da sua natureza divina e no esplendor do seu amor inefável, empreendeu a tarefa, não de justificar o justo, mas o ímpio. Ele arquitetou modos e meios de fazer o ímpio comparecer justificado diante Dele, para isso estabeleceu um sistema por meio do qual, com perfeita justiça, pode tratar o culpado como se tivera sido livre de culpa toda a vida; sim, como se fora inteiramente livre do pecado. Deus justifica o ímpio.
 
Jesus Cristo veio a este mundo salvar pecadores
 
           Eis uma coisa surpreendente, uma coisa para ser admirada sobre todas as coisas. Para mim, até hoje, a maior de todas as maravilhas é esta, que Deus me tenha justificado a mim. Reconheço-me pessoalmente, uma esponja de iniqüidade, massa de corrupção, montão de pecados, sem o Seu onipotente amor, mas sei, com plena certeza, que estou justificado pela fé que há em Cristo Jesus, e sou tratado como se fosse perfeitamente justo, tendo-me tornado herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo; contudo, por natureza, cumpre-me tomar lugar entre os piores pecadores. Eu, que sou inteiramente indigno, sou tratado por Deus como digno. Sou amado com tanto amor como se sempre tivesse sido justo, sendo, na verdade, antigamente injusto.
 
     Quem pode deixar de assombrar-se com isto? Gratidão por um favor tal deve vestir-se com roupas de espanto! Agora, embora esta matéria seja grandemente surpreendente, não deixe de notar quão acessível ela faz o evangelho para você e para mim. Se Deus justifica o ímpio, então, leitor amigo, Ele pode justificar você. Não é esta a espécie de pessoa que é? Se, neste momento, ainda não é convertido, este nome te cabe muito bem: tem vivido sem Deus, tem sido o oposto da piedade; em uma palavra tem sido e ainda é ímpio.

     Talvez ainda não tenha comparecido a algum lugar de culto em dia de domingo; tenha vivido indiferente para com o dia do Senhor, a casa do Senhor, a Palavra do Senhor. Isso prova que você é ímpio. Ainda mais triste, bem pode ser que alimenta dúvidas a respeito da existência de Deus, e não te envergonha de exteriorizá-las. Vive nesta terra agradável, toda ela cheia de provas da presença de Deus, e todo o tempo os seus olhos se mantiveram fechados às claras evidências do Seu poder e da Sua divindade. Tem vivido como se não existisse Deus. Na verdade, teria até se sentido alegre se pudesse demons­trar a você mesmo, com toda certeza, de que não há Deus.

     Possivelmente tem vivido muitos anos deste modo, de maneira que está agora muito bem estabelecido em seus caminhos; no entanto, Deus não se encontra em nenhum deles. Se fosse chamado de ímpio, teria recebido um nome que te cabe tão bem como o dizer-se do mar que ele é água salgada. É possível também que seja uma pessoa de outro tipo: frequenta regularmente a todas as formas exteriores de religião, e no entanto, o seu coração não está nelas, pelo contrário, mostra-se realmente ímpio. Embora tenha se reunido com o povo de Deus, nunca se reuniu com o próprio Deus. Tem estado no coro, mas ainda não louva a Deus com o coração. Tem vivido sem qualquer amor a Deus, no coração, e sem consideração para com os seus mandamentos. Bem, você é exatamente o tipo de pessoa para quem este evangelho é enviado - este evangelho que diz que Deus justifica o ímpio. Ele se enquadra perfeitamente a você, não é verdade? Oh! quanto desejo que você o aceite! Se é uma pessoa sensata, verá a admirável graça de Deus no que fez para um tal como é, e dirás a você mesmo: "Justificar o ímpio! Por que então, não serei eu também justificado, e justificado de uma vez?"

 
          Agora, observe a seguir, que assim deve ser, isto é, que esta salvação de Deus seja para aqueles que não a merecem, e nenhuma preparação tem para ela. E razoável que tal ensino se encontre na Bíblia, pois, prezado leitor, nenhum outro precisa de justificação senão aqueles que não tem nenhuma justiça própria. Se algum dos meus leitores for perfeitamente justo, não precisa justificar-se. Você sente que está cumprindo bem com os seus deveres e quase colocando o céu sob obrigação para com você. Que é que te falta com rela­ção a um salvador, ou que necessidade tem de misericór­dia? Que é que te falta relativamente à justificação? Já deve estar cansado do meu livro, neste momento, pois ele realmente não te interessa.
 
          Se alguém assumir tais ares de orgulho, ouve-me por um pouco. Irá se perder tão certo quanto agora vive. Vocês, homens justos, portadores de uma justiça de sua própria fábrica, vocês ou são enganadores, ou enganados, pois a Escritura não pode mentir, e ela diz claramente: "Não há nenhum justo, nem sequer um". De qualquer modo, não tenho um evangelho para pregar aos portadores de retidão própria, nem uma palavra. O próprio Cristo não veio chamar os justos, e eu não vou meter-me a fazer aquilo que ele não fez. Se te chamasse, não viria; portanto, não te chamarei, sob aquela condição. Não, eu te imploro, ao contrário, que olhe para a sua retidão até que veja como ela é ilusória. Não possui nem sequer metade da substancialidade da teia da aranha. Acabe com ela! Fuja dela! Oh senhores, as únicas pessoas que podem necessitar de justificação são aquelas que não são justas em si mesmas.

            Estas precisam de que alguma coisa seja feita por elas a fim de torná-las justas diante do tribunal de Deus. Dependam disso. Só o Senhor realiza aquilo que é indispensável. A sabedoria infinita não tentaria nunca realizar aquilo que é desnecessário. Jesus nunca tenta efetuar o supérfluo. Justificar o justo não é a obra de Deus, este seria o trabalho de um tolo, mas fazer justo aquele que é injusto, eis a obra do amor e da misericórdia infinitos. Justificar o ímpio - eis o milagre digno de um Deus. E certamente assim é.
Agora, veja. Se houver, em alguma parte do mundo, um médico que tenha descoberto remédios preciosos e infalíveis, a quem será este remédio enviado? Àqueles que estão perfeitamente sãos? Não acredito. Ponha-o naquele lugar onde não há enfermos, e ele sentirá que não está no seu lugar. Nada há ali para ele fazer.

          "Os sãos não precisam de médico, mas os que estão enfermos". Não é igualmente claro que os grandes remédios da graça redentora são para a alma enferma? Eles não podem ser para as pessoas que estão sãs, pois não lhes seriam de nenhum préstimo. Se você, prezado leitor, sente que está espiritualmente enfermo, o Médico veio a este mundo para você. Se você considera inteiramente inválido em virtude do pecado, você é a verdadeira pessoa visada no plano de salvação. Digo-te que o Deus de amor tinha diante dos olhos quando arquitetava o seu sistema de graça, pessoas como você. Suponha que um homem de espírito generoso resolva perdoar todos aqueles que lhe devam.

          Um há que lhe deve mil libras esterlinas; outro, cinqüenta; nada tem que fazer senão receber das mãos do homem generoso o recibo final, e a sua conta estará liquidada. Contudo, as pessoas mais generosas não podem perdoar dívidas àqueles que não lhes devem nada. Ainda mesmo a Onipotência não pode perdoar àquele que não pecou. O perdão, portanto, não pode caber a você que não tem pecado. O perdão há de ser para o culpado. Seria absurdo falar de perdão àqueles que não necessitam de perdão - àqueles que nunca praticaram uma ofensa.
           Pensa que deve estar perdido porque é pecador? Esta é também a razão porque pode ser salvo. Uma vez que você se reconheça pecador, sinto que posso encorajar-te a crer que a graça de Deus foi ordenada para uma pessoa como você. Um dos nossos poetas teve a ousadia de dizer:

"Um pecador é uma coisa sagrada; O Espírito Santo assim o fez".
Na verdade, é assim porque Jesus veio buscar e salvar aquele que tinha se perdido. Ele morreu e fez uma verdadeira expiação em favor de pecadores reais. Quando os homens não estão brincando apenas com palavras, ou chamando-se a si mesmos "miseráveis pecadores", por mero costume, sinto-me sobremodo alegre ao encontrar-me com eles. Me sentiria feliz em falar toda a noite com pecadores bonafide. A estalagem da misericórdia nunca fecha as portas a tais pecadores, quer nos dias de semana, quer aos domingos. Nosso Senhor Jesus não morreu por pecados imaginários: antes, derramou o sangue da sua vida para lavar manchas profundas, que nenhuma outra coisa pode remover.

           Aquele cujo pecado é negro, é exatamente o homem cujo coração, Cristo veio embranquecer. Um pregador, certa vez, pronunciou um sermão extraído do seguinte verso: "Agora, o machado está posto à raiz das árvores", e o sermão foi de tal ordem que um dos ouvintes lhe disse: "Poderia se pensar que estava pregando a criminosos. Deveria ter proferido esta mensagem na cadeia do distrito". "Oh, não", disse o bom homem. "Se eu estivesse pregado na cadeia, não teria usado aquele texto. Para lá teria escolhido o seguinte: "Esta é uma palavra fiel e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio a este mundo para salvar os pecadores." Assim é. A Lei é para os que se julgam justos, a fim de abater-lhes o orgulho; o evangelho é para os perdidos, a fim de lhes remover o desespero.
 
         Se não está perdido, de que é que te adianta um Salvador? Sairia o pastor em busca daqueles que nunca se extraviaram? Por que varreria a mulher toda a casa a fim de procurar moedas que jamais caíram da sua bolsa? Não, a medicina é para a doença, a vivificação é para os mortos, o perdão é para os culpados, a liberdade é para os que estão em cativeiro e a abertura de olhos é para os que jazem na cegueira. De que serviria o próprio Salvador, a sua morte sobre a cruz, o seu evangelho de perdão, se não existissem homens culpados e dignos de condenação? O pecador é a razão de ser do evan­gelho. Vocês, amigos, para quem estas palavras são dirigidas, se são indignos, rnal-dignos, inferno-dignos, vocês são aqueles para quem o evangelho foi designado, planejado e proclamado. Deus justifica o ímpio.
 
          Desejaria tornar isto ainda mais claro. Espero que já o tenha feito; contudo, embora esteja tão claro, só o Senhor pode fazer com que o homem o perceba. Parece, a princípio, imensamente surpreso a todo o homem despertado que a salvação realmente lhe pertença, sendo ele perdido e culpado. Seu pensa­mento é que devia ser dele como um penitente, esquecido de que a própria penitência é uma parte de sua salvação. Oh, diz ele, "eu devo ser isso e aquilo". Tudo isto é verdade, pois não há de ser isso e aquilo como o resultado da salvação; mas a salvação lhe é oferecida antes dele possuir qualquer dos seus resultados. A salvação lhe é oferecida, de fato, quando só merece este nome, infame e abominável, "ímpio". Isto é tudo que o pecador é, quando o evangelho de Deus lhe é oferecido para sua justificação.
 
          Seja-me, pois, permitido insistir com todos aqueles que nenhuma coisa boa possam achar em si mesmos, que temem nada conhecerem de bom sentimento, ou de qualquer outra coisa que os possa recomendar a Deus - que eles firmemente creiam que o gracioso Deus é capaz e está desejoso de tomá-los sem qualquer obra que os recomende, e de perdoá-los espontaneamente, não porque eles sejam bons, mas porque Ele é bom. Não faz ele que o seu sol brilhe, tanto sobre os maus como sobre os bons? Não dá a eles estações frutíferas, e não envia chuvas e o calor do sol a seu tempo sobre os povos mais im­piedosos? Ah, até mesmo Sodoma teve o seu sol, e Gomorra, o seu orvalho. Oh, amigo, a grande graça de Deus ultrapassa a minha e a sua concepção, e eu gostaria que tivesse dela uma idéia digna e elevada. Assim como os céus estão mais altos do que a terra, assim os pensamentos de Deus estão mais altos do que os nossos. Ele pode perdoar abundantemente. Jesus Cristo veio a este mundo salvar pecadores. O perdão é para o culpado.
 
     Não tente se restaurar fazendo-se diferente do que realmente é, mas venha como é àquele que justifica o ímpio. Um grande artista, certa vez, pintou uma parte das coisas da cidade em que vivia, com propósito histórico, desejou imprimir na sua tela certos caracteres conhecidos da dita cidade. Um varredor de rua, relaxado, maltrapilho, imundo, era conhecido de toda a gente, por isso, foi escolhido para figurar no quadro. O artista disse-lhe: "Te pagarei bem se vier ao meu atelier para que possa copiar tua imagem". Na manhã seguinte apareceu o varredor, mas foi logo despedido pelo artista porque havia lavado o rosto, penteado os cabelos e vestido um recomendável terno. Ele fora desejado como um mendigo, e não de outra maneira.
 
           Do mesmo modo, o evangelho te receberá em seus átrios, se apresentar-te como um pecador, e de nenhum outro modo. Não espere até que seja reformado, mas venha logo para a salvação. Deus justifica o ímpio, e isso te toca onde está agora. Toca-te mesmo no seu pior estado.
 
     Venha com o seu desarranjo; isto é, venha a seu Pai celeste como o seu pecado e pecaminosidade. Venha a Jesus tal qual é, leproso, imundo, nu, imprestável, quer para a vida, quer para a morte. Venha, você que é o lixo da criação; venha, embora não se sinta sequer encorajado a esperar por outra coisa senão a morte. Venha, embora o desespero esteja pairando sobre você, ou oprimindo o seu peito como um horrível pesade­lo. Venha e peça ao Senhor que justifique outro ímpio. Por que não o faria Ele? Venha, porque esta grande misericórdia de Deus se destina a alguém como você. Eu a ponho na linguagem do texto, e impossível será fazê-la mais forte: o próprio Senhor assume pessoal­mente este gracioso título: "Aquele que justifica o ímpio". Ele justifica e faz que sejam tratados como justos, aqueles que por natureza são ímpios. Não é isso uma coisa maravilhosa para você? Não se levante do lugar em que está sem que tenha considerado bem este assunto. 

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