Samuel foi um filho, que por mais que tenha sido fruto de um voto diante de Deus, serviu na casa do Senhor chamado e levantado por Deus para o desempenho ministerial. Ana clamou por um filho, Deus lhe respondeu dando-lhe o filho e provendo-Se de um Sacerdote e Profeta.
Algumas coisas, porém nada de coincidência, nos fazem ver certa realidade do tempo de Samuel, no contexto espiritual e moral, com os nossos dias – os dias trabalhosos.
Vejamos o contexto da época:
1. Samuel foi servir no templo quando era criança, pois fora voto de gratidão de sua mãe entregá-lo ao serviço na casa do Senhor (I Sm. 1:11, 28; 2:11);
2. Samuel chegou à casa do Senhor em tempos turbulentos. Eli era o sacerdote – porém já sem autoridade; Hofni e Finéias estavam moralmente e espiritualmente depravados – a fama deles era horrível em Israel. Eram chamados de filhos de Belial, ou seja, homem vil; perverso de boca e de coração, que acena com olhos, mãos e pés; maquinador do mal e semeador de contendas (Pv. 6:12-14).
3. A glória – a presença de Deus – se afastara de Israel (I Sm. 4:20-22; 5:1-12; 6:1-12);
4. A nação de Israel estava acuada diante dos filisteus, e por causa disso, teve perdas significativas em duas batalhas – 34 mil homens de Israel, inclusive quando a arca do Senhor estava com eles (I Sm. 4:1-2; 10-11);
5. O povo estava de mãos dadas com a idolatria (I Sm. 7:3-4) – não servia ao Senhor de coração íntegro.
Samuel tinha tudo ao seu favor para ser um sacerdote relapso, dissoluto, corrupto e indiferente para com a seriedade da obra de Deus. No entanto escolheu não seguir os exemplos ao seu lado, mas ouvir a voz do Senhor e fazer o que o Senhor lhe ordenava. A bíblia registra que:
a. Em contraste com a ministração corrompida de Hofni e Finéias, pois faziam o que bem entendiam com as coisas sagradas, “Samuel, porém, ministrava perante o Senhor. [...] Crescia em estatura e em graça diante do Senhor e dos homens” (I Sm. 2:12-18,26).
Samuel procurou ouvir a voz do Senhor, entender o que o Senhor queria e seguir a vontade de Deus. Ministrar perante o Senhor denota integridade ministerial e moral, isto é, andava em retidão e justiça diante de Deus e dos homens. Acredito que não fora fácil para Samuel manter-se em postura firme pela verdade. Os homens que estavam corrompidos e corrompendo eram os da classe sacerdotal, juízes em Israel, e filhos do sacerdote Eli; Samuel, conquanto novo, teve a maturidade suficiente para ver que havia graves erros na conduta deles – eles não respeitavam as coisas sagradas, eles não obedeciam a Lei.
Estamos vivendo dias parecidos – se não iguais. Estamos em tempos de corrupção ministerial, infelizmente. Homens corrompidos estão corrompendo o sagrado ministério, isto é, não tem responsabilidade nenhuma com o ministério que lhes fora confiado pelo Senhor; em sua carnal sensualidade, secularizam o chamado ministerial, e estão fazendo o que bem entendem: negócios financeiros ilícitos e extrapolados; pecados morais ficam escondidos (adultério, fornicação, prostituição, homossexualismo, etc.); estão introduzindo – no culto, como também na vida quanto na prática ministerial – sutilmente, inovações que nada tem a ver com a Palavra e a direção do Espírito Santo; muitos estão guiando a igreja e ministrando (mais) através de (somente) capacidades naturais (politicamente, carisma, influência pessoal, poder) em detrimento da orientação do Espírito Santo.
b. Em tempos de escassez da Palavra e visões do Senhor, “Samuel servia ao Senhor” (I Sm. 3:1).
Samuel foi levantado por Deus e colocado na casa do Senhor porque o Senhor desejava trazer um reavivamento em Israel. Porém todo reavivamento tem que começar pelo altar e nunca pelo povo.
A raridade da Palavra do Senhor e das visões naquele tempo era devido à corrupção sacerdotal que se instalara deliberadamente em todo serviço na casa do Senhor. Deus não tinha mais como operar através de sacerdotes corruptos. Hofni e Finéias não tinham nenhum respeito para com as coisas sagradas. Os sacrifícios eles assaltavam para satisfazer seus desejos, o que diz a bíblia ser “[...] muito grande o pecado destes moços” (I Sm. 2:12-17); além disso eles estavam envolvidos com pecados morais pois “tinham relações com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação” (I Sm. 2:22); diante de tudo isso a fama deles era péssima (I Sm. 2:24).
A fama está relacionada com aquilo que fazemos. Se fizermos coisas más, a fama será má, se fizermos coisas boas, a fama será boa; muitos tem escondido a má fama atrás de uma capa de santidade, mas a Bíblia diz que o pecado havendo concebido gera a morte, e que nada há escondido que não seja revelado. O povo não podia ouvir o que os sacerdotes tinham a dizer, pois o que eles faziam (a fama deles) falava mais alto do que o que eles diziam. O Senhor não os usava, já tinha os rejeitado, e a Palavra diz que “[...] o Senhor os queria matar”.
Há muitas igrejas em que a Palavra do Senhor – a pregação bíblica e cristocêntrica – é rara (quando não proibida), e as visões do Senhor há muito se foram. Isso é porque o ministério está corrompido. Não há mais temor no altar, como diz o hino: “parece que o pecado não é pecado mais; parece que o errar não é errado mais”. Hoje, muitas mensagens estão sendo deixadas de lado por que pode atingir homens (importantes, de fama), que mesmo no púlpito, estão envolvidos nos mais variados pecados; fazem parte do ministério, são pregadores, são ensinadores, mas estão com a vida embebida em pecado sobre pecado (Jd. 11-13) - mas não são Profetas!
Não se pode falar contra avalanche de divórcio, porque há obreiros, nos púlpitos, divorciados; não se pode falar contra os pecados morais (adultério, fornicação, prostituição, homossexualismo), porque há obreiros de mãos dadas com esses pecados, e muitas vezes se mexer com eles, poderá vir à tona pecados horríveis de outros; não se pode falar com relação à seriedade administrativa e/ou financeira porque, inclusive, a seriedade administrativa de muitas igrejas é dúbia; e assim por diante; não se pode falar a verdadeira doutrina, porque há muitos de mãos dadas com liberalismo teológico. Devido a algumas porções de ‘fermento’ negligenciadas no caminho, está havendo uma levedação quase que total.
A Palavra de Deus estava rara nos dias de Samuel porque os sacerdotes encontravam-se de mãos dadas com o pecado. Enquanto Hofni e Finéias estavam na prática dos mais variados pecados, Eli não tinha mais autoridade para detê-los. Por quê? Porque os honrava desta forma, Deus disse a Eli: “[...] por que honra a teus filhos mais do que a mim [...]?” (I Sm. 2:29).
Há muitos obreiros que não estão praticando o pecado, mas que devido ao seu silêncio, pois não pregam contra, estão honrando os que tais coisas fazem. Honrar é colocar em evidência, é falar bem (sobre alguém, sobre algo), como pode ser também simplesmente deixar à vista, isto é, não se envolver. Honrar, biblicamente, não é, de forma alguma, lisonjear. Muitos perguntam: mas aquele não tem feito isso e isso? Como está ali (no púlpito)? Deus não se agrada com estas coisas, e a consequência é que a Palavra de Deus vai ficando rara e as visões – manifestações genuínas do Espírito Santo – com menos freqüência ainda (I Sm. 3:1).
Conheço obreiros que dizem não ser necessária a confissão de pecados, como o adultério, nem para o cônjuge e família, quanto mais para o ministério. Não sou defensor da confissão auricular, mas devido à gravidade de certos pecados, faz-se necessário a confissão (o pedido de perdão) diante do cônjuge e da família, e também diante do ministério. Uma vez imposta as mãos do ministério sobre alguém, jamais este será visto como comum entre o povo. Paulo disse ter alcançado misericórdia por ter reconhecido sua condição de pecador (I Tm. 1:16); Salomão recomenda a confissão e o abandono do pecado para alcançar misericórdia (Pv. 28:13). Há muitos, infelizmente obreiros, que macularam o leito, e continuam andando como se nada tivesse acontecido (Hb. 13:4). Continua o hino anterior “pecados encobertos Deus vai requerer, por isso muitos hoje estão a sofrer”.
Quando Acã pecou foi contra Deus, e o prejuízo veio sobre nação de Israel – foi punido e morto pela congregação. Josué poderia ter-lhe chamado para um cantinho e ‘negociado’ com ele – mas sabia Josué que isto não agradaria a Deus, e resultaria em decadência moral sobre Israel (Js. 7). Poderia Acã continuar sendo um guerreiro de moral se o seu pecado fosse encoberto, negociado? O que diria ele diante do pecado de algum irmão seu? Ficaria ele paciente sabendo que havia derrota sobre Israel por causa de algum pecado escondido? Por isso o pecado não pode ser encoberto. Pecados encobertos abrem as portas para frouxidão moral e espiritual, a autoridade entra em decadência (I Co. 5:6).
A igreja em Corinto estava deliberadamente complacente com o pecado que grassava, mas Paulo os repreendeu e disse que os tais deviam ser punidos com a disciplina do Senhor; o silêncio dos corintos diante do pecado era porque estavam inchados, isto é, tomados de orgulho, e isto impedia de sentirem tristeza por causa do pecado (I Co. 5:1-6; cf. 6:1-11).
Hoje, perante a Constituição, somos repletos de regalias e apoio para fazermos o que quisermos, e ninguém pode falar nada; infelizmente muitos tomam atitudes, amparados na moral dos homens, esquecendo que a ética e moral cristã está muito acima de qualquer valor moral humano. Mas tenhamos cuidado! (I Co. 6:1-11). Deus não vai deixar de punir o pecado porque a Constituição não pune. A Palavra do Senhor não passará (Mt. 24:35; cf. Jr. 25:14; 51:56; Rm. 12:19), a lei da semeadura e da colheita é bíblica (Gl. 6:7). Podemos nos esconder, em artigos constitucionais, diante dos homens; mas perante Deus, jamais – Deus é onisciente, onipotente e onipresente (Sl. 139:7-16).
c. Diante da queda moral do sacerdócio, o povo de Israel “[...] conheceu que Samuel estava confirmado como Profeta do Senhor” (I Sm. 3:20).
A decadente situação que se encontrava o sacerdócio nos tempos de Eli refletia a necessidade de mudanças profundas e espirituais. Por mais que a situação fosse caótica, Deus estava no comando. O poder da oração vai muito além do que podemos imaginar. Enquanto Ana sentia-se grata a Deus por lhe dar um filho como resposta a sua oração, Deus havia escolhido o seu filho para por em ordem as coisas em Israel.
Tempos de crise são propícios para revelarem que são os corajosos para cuidarem dos negócios do Pai (Lc. 2:49). O compromisso de Samuel era com Deus, com a Sua Palavra. Samuel não precisou punir os que estavam brincando com o ministério e com as coisas sagradas. Quem os puniu e os extirpou foi Deus (I Sm. 2:25-36; 4:11,17,18). A posição firme que Samuel precisou ter foi com relação à Palavra, o povo reconheceu Samuel como Profeta porque que a Palavra de Deus na sua boca era verdade, o Senhor honrava e não deixava as palavras de Samuel cair por terra (I Sm. 3:19-21).
As derrotas sofridas pelo povo de Israel diante dos filisteus revelam a confusão espiritual em que estavam. Foram derrotados inclusive com a Arca do Senhor no meio deles (I Sm. 4:4,10,11); o povo jubilou de forma tremenda e retumbante quando a Arca chegou no meio deles, mas na verdade, Deus não estava contente com eles, pois o coração de todos estava voltado para os ídolos e a prostituição. Dessa forma não houve vitória como esperavam, mas novamente foram derrotados, e de forma mais humilhante. Nem sempre os “júbilos” do culto corroboram a presença do Senhor.
Vivemos tempo de muitos louvores e cânticos; porém pouca adoração, oração e Palavra!
Eles estavam vivendo uma sequidão espiritual. “[...] e toda a casa de Israel suspirava pelo Senhor” (I Sm. 7:2). Nesse tempo Samuel os conclama ao arrependimento e a reconciliação com Deus.
1. “Se de todo o vosso coração vos converteis ao Senhor”: o Senhor exigia uma conversão de coração, era mudança de atitude, de conduta, uma volta aos princípios da Palavra. Deus não estava contente com exterioridades; atitudes piedosas somente de aparência. Quando a Arca da aliança foi trazida de Siló, houve gritos, a terra estremeceu, houve voz de júbilo. Mas eram atitudes que revelavam um egocentrismo, o povo só queria a vitória sobre os filisteus, mas estavam distante da adoração genuína.
Deus somente é adorado em espírito e em verdade, isto é, adoração que parte de corações convertidos a Ele. Samuel os chamou à conversão, e conversão verdadeira revelava algumas atitudes na prática deles.
2. “tirai dentre vós os deuses estranhos e as astarotes”: o coração de Israel estava voltado para a idolatria. Eles queriam as bênçãos de Deus, mas não queriam largar a corrupção espiritual em que estavam envolvidos. Era muito cômodo para o eu de cada um, obter vitórias sobre os filisteus e continuar na prostituição com os deuses falsos – queriam estar livres do jugo dos filisteus, mas ao mesmo tempo, não queriam largar os deuses dos filisteus. Isto revela uma dicotomia espiritual anátema: ao mesmo tempo muitos querem as bênçãos de Deus e as benesses condenadas por Deus de um mundo decaído.
Tem muitos, nos dias de hoje, que vão à casa do Senhor buscar as bênçãos de Deus. Decretam, determinam, fazem campanhas de semanas ou dias, mas não querem um compromisso sério com a Palavra, pois a Palavra condena as suas obras más. Querem a bênção que lhes enriquece o eu e ao mesmo tempo andam de mãos dadas com adultério, a mentira, o roubo, a feitiçaria, a bebedeira, o divórcio, as falcatruas financeiras, e assim por diante. Se houver conversão genuína tudo que é estranho e condenável pela Palavra de Deus será extirpado.
3. “Preparai o vosso coração ao Senhor e servi a Ele só”: um coração convertido ao Senhor serve a Ele só. Um dos aspectos da Salvação é santificação, e isto relaciona-se com o culto à Deus. O salvo dedica-se unicamente para as coisas do Senhor, isto é, em todas as práticas e atitudes o seu interesse é glorificar a Deus. Servir ao Senhor significa estar disposto e viver dedicadamente ao Serviço a Deus, e isto provoca no cristão uma entrega contínua e diária ao Seu Senhor. Israel não podia servir ao Senhor na conquista dos inimigos e, depois aliar-se ao inimigo e servir-lhe em todas as suas práticas – pois isso era abominação diante de Deus – Deus não aceitava isso.
Para muitos, avivamento é um emaranhado de inovações, de coisas novas a acontecer, mas na verdade não é bem assim. Avivamento, antes de tudo, é uma volta àquilo que foi abandonado por causa da secularização. Israel havia abandonado a verdadeira adoração; não andava mais perante o Senhor; não cultuava a Deus e muito menos respeitava as coisas do Senhor, conquanto ainda insistisse em querer as bênçãos de Deus.
Ao ouvirem as repreensões e exortações de Samuel eles resolveram tirar “dentre si os baalins e as astarotes, e serviram só ao Senhor” (I Sm. 7:4). Veja como foi simples! Não precisou de inovações e novas revelações, eles só tiveram que voltar ao que era antes: adorarem só ao Senhor; servirem só ao Senhor.
Muitos problemas não tem sido resolvidos nos arraiais da igreja por falta da Palavra. A porta está aberta para o caminho largo, para pecados tão grassos, porque está faltando Palavra, pregação bíblica, profecia, temos pregadores em abundância, mas Profeta do Senhor é coisa rara. Sem a Palavra não há conhecimento do Senhor. Quando Samuel os chamou ao arrependimento não fez aos gritos e a meias-palavras, mas falou-lhes a verdade, tocou-lhes a ferida; porém não ficou nisso, Samuel orou por eles, intercedeu por eles e se dispôs a oferecer sacrifícios em favor da vitória sobre os filisteus.
Um coração convertido se torna preparado para o serviço na casa do senhor, o passo seguinte é Deus quem dá, pois é um passo de vitórias sobre os inimigos. Após o arrependimento, Samuel pôde orar por eles, houve confissão, jejum (consagração, santificação) e houve uma grande e definitiva vitória sobre os filisteus (I Sm. 7:5-14).
Que o Senhor nos ajude a nos voltarmos para Sua Palavra. Acredito não ser tempo de bênçãos materiais, financeiras – e infelizmente isto está sendo tão desejado, tão buscado nos dias de hoje (quem busca em primeiro lugar o “reino e a sua justiça” tem sobre si essas Bênçãos [Mt 6:25-34]); o que estamos precisando é de Bênção espiritual em Cristo Jesus, para isso é necessário ter o coração convertido ao Senhor, desejar as coisas de cima, almejar a nossa pátria celestial, conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor.
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