segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Muitas vezes passamos por Aflições que nós mesmos geramos.



O AGUILHÃO CIRCUNSTANCIAL 

 
          Quando não cedemos ao aguilhão da consciência, Deus pode avançar para um outro nível de aguilhoada: o das circunstâncias adversas. Penso que o melhor exemplo deste tipo de aguilhão pode ser encontrado na vida do profeta Jonas. 
 
"Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim.
Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor."
Jonas 1:1-3. 
 
          O Senhor comissionou Jonas a proclamar contra o pecado de Nínive, mas ele sabia que se o fizesse os ninivitas poderiam arrepender-se e neste caso, seriam poupados. Desejando que fossem destruídos pela ira e juízo divinos por julgá-los cruéis e merecedores de tal sorte, Jonas decide não levar a mensagem de Deus a eles, e se rebela contra Deus. E ao rebelar-se, experimenta os aguilhões de Deus em sua vida: 
 
"Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar.
Então os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus, e lançavam no mar a carga, que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão, e se deitado; e dormia profundamente.
Chegou-se a ele o mestre do navio, e lhe disse: Que se passa contigo? agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez assim esse deus se lembre de nós para que não pereçamos. 
 
E diziam uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas.
Então lhe disseram: Declara-nos, agora, por causa de quem nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual é tua terra? E de que povo és tu?
Ele lhes respondeu: Sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra. 
 
Então os homens ficaram possuídos de grande temor, e lhe disseram: Que é isto que nos fizeste! Pois sabiam os homens que fugia da presença do Senhor, porque lho havia declarado."
Jonas 1:4-10. 
 
          Este foi o primeiro aguilhão de Deus na vida de Jonas. O Senhor enviou-lhe uma grande tempestade. Sempre que falamos de tempestades, pensamos em adversidades, dificuldades, pois é exatamente isto que elas significam. Só que em geral vemos em Satanás a origem das adversidades, e neste caso, a Bíblia diz que foi Deus quem a enviara! É lógico que o Senhor pode colocar o diabo para trabalhar para Ele, permitindo uma investida contra áreas específicas de nossas vidas; mas isto não quer dizer que o diabo esteja no controle da situação. E há tempestades como esta de Jonas que Deus mesmo envia. 
 
          Sabe, nossa rebeldia produz as aguilhoadas de Deus que, muitas vezes, podem vir através de circunstâncias adversas enviadas por Ele mesmo. E nesta hora não adianta orar, repreender o diabo, e nem jejuar. A única coisa que podemos e devemos fazer é nos arrepender e deixar a rebeldia. Enquanto Jonas não se posicionou, a tempestade foi ficando cada vez pior. É assim, também, com muitos cristãos rebeldes. Tem muita gente em rebeldia que vive correndo atrás de igrejas e pregadores, como se uma oração resolvesse seus problemas... Mas o que é preciso quando Deus está usando seu aguilhão, é desempacar e decidir obedecê-lo! 
 
          Mas Jonas não cedeu ao aguilhão de Deus. Pelo contrário, recalcitrou, e se machucou ainda mais. Deve ter pensado consigo mesmo: "Se Deus pensa que eu vou desistir tão fácil, deve estar enganado! Ele mandou a tempestade para me assustar com o medo da morte, mas eu sou duro na queda, e não vou recuar, se é para morrer, eu morro, mas não irei à Nínive!" E decidiu morrer afogado em vez de obedecer ao Senhor: 
 
"Disseram-lhe: Que te faremos, para que o mar se nos acalme? Porque o mar ia se tornando cada vez mais tempestuoso.
Respondeu-lhes: Tomai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade.
Entretanto os homens remavam, esforçando-se por alcançarem a terra, mas não podiam; porquanto o mar ia se tornando cada vez mais tempestuoso contra eles.
Então clamaram ao Senhor, e disseram: Ah! Senhor! Rogamos-te que não pereçamos por causa da vida deste homem, e não faças cair sobre nós este sangue, quanto a nós, inocente; porque tu, Senhor, fizeste como te aprouve.
E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar; e cessou o mar da sua fúria.
Temeram, pois, estes homens em extremo ao Senhor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor, e fizeram votos."
Jonas 1:12-16. 
 
          Note que a tempestade enviada por Deus era progressiva. Quanto mais os homens tentavam alcançar a terra remando, mais tempestuoso ficava o mar. Quando Deus usa seu aguilhão, não há escapatória a não ser cedermos e arrependermo-nos. Jonas não se intimidou diante do risco da morte e preferiu morrer a deixar de teimar. Ele queria morrer, estava muito desgostoso com Deus. Só que Deus começou a jogar duro com ele, e não o deixou morrer! Em momento algum o Senhor queria destruir Jonas, mas sim tratar com ele. Lembre-se que este é o nosso assunto: o agir misterioso do Pai tratando conosco. Deus se recusa deixar Jonas morrer: 
 
"Deparou o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites dentro do peixe"
Jonas 1:17. 
 
          O profeta queria que tudo tivesse acabado sem que ele precisasse ceder, mas Deus não deixou. E então vem o segundo aguilhão, que nas palavras de Jonas em sua oração, é quando "todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim" (Jn.2:3). Muitos descrêem do relato do livro de Jonas, mas vale lembrar que Jesus se referiu a ele não só como histórico mas também como tipológico (Mt.12:39-41). 
 
          É interessante que no navio Jonas ficou firme e não cedeu, mas quando Deus pegou pesado com ele, enviando um peixe que o engoliu vivo, impedindo-o até mesmo de morrer, e trazendo ainda mais sofrimento, então ele se rendeu. Temos em seu livro o relato da oração que ele fez no ventre do peixe:
"Então Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor seu Deus, e disse: Na minha angústia clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo gritei, e tu me ouviste a voz.
Pois me lançaste no mais profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e vagas passaram por cima de mim.
Então disse: Lançado estou diante dos teus olhos; tornarei, porventura, a ver teu santo templo?
As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha cabeça até aos fundamentos dos montes. Desci à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim para sempre; contudo fizeste subir da sepultura a minha vida, ó Senhor meu Deus!
Quando dentro de mim desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo.
Os que se entregam à idolatria vã abandonam aquele que lhes é misericordioso.
Mas com a voz do agradecimento eu te oferecerei sacrifício; o que votei, pagarei. Ao Senhor pertence a salvação!"
Jonas 2:1-7. 
 
          Imagine você o estado deplorável (e até cômico) de Jonas com todas aquelas algas enroladas no pescoço e cabeça, três dias e três noites molhado, no escuro, sem comer, e com enjôo, fora o resto do que ele passou e que nem sabemos. Deus sabe como nos quebrar. Se endurecemos e empacamos, Ele irá nos aguilhoar; e se começarmos a recalcitrar, Ele sabe exatamente como lidar conosco. 
 
          Jonas se rendeu, e lembrou de deixar claro em sua oração que ele pagaria todos os seus votos (o que provavelmente indicava que ele aceitava ser obediente e levar a mensagem de Deus à Nínive). E como ele cedeu e se arrependeu, então Deus retirou seu aguilhão: 
 
"Falou, pois, o SENHOR ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra".
Jonas 2:10. 
 
          Nunca vi um peixe vomitando, mas imagino que não foi nada agradável, e que de tudo o que passou, o profeta precisou de uns bons dias para se recuperar totalmente. Então o Senhor falou novamente com Jonas no sentido dele ir e pregar aos ninivitas e, desta vez, ele foi. Foi e pregou o juízo que Deus estabelecera por um dia inteiro. 
 
          Um avivamento aconteceu, e todos desde o menor até o maior se arrependeram. E Deus não destruiu a cidade. E o comportamento de Jonas nos revela que mesmo tendo obedecido a Deus ele não o fez de coração. Agiu como aquela criança que a professora pôs de castigo, em pé diante da classe, e que disse: "por fora estou em pé, mas por dentro estou sentada"; ou seja, obedeceu mecanicamente, não de coração. 
 
"Com isso desgostou-se Jonas extremamente, e ficou irado.
E orou ao SENHOR, e disse: Ah! SENHOR! Não foi isto que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso me adiantei fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente e misericordioso, tardio em irar-se e grande em benignidade, que se arrepende do mal.
Peço-te, pois, ó SENHOR, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver."
Jonas 4:1-3. 
 
          Nesta hora, Jonas voltou a agir como um animal, e empacou. Portanto, precisava de um aguilhão e Deus lhe deu uma terceira espetada. Ele está tão contrariado, que quando o Senhor lhe pergunta se sua ira é razoável, ele vira a cara e não responde. Sai da cidade e se isola de Deus e das pessoas, remoendo sua bronca. É aí que o Senhor o pega de jeito mais uma vez. Desta vez Deus dá algo a Jonas para depois o tirar. Penso que isto retrata o Senhor mexendo na própria estabilidade que um dia nos deu, a fim de nos levar a ceder. 
 
          O tratamento visa justamente mudar nossos conceitos e valores, e isto aconteceu com o profeta. O livro termina com Deus falando por último, e não Jonas, o que nos mostra que ele aprendeu a parar de retrucar e de empacar. Nós também precisamos aprender isto, que não importa o que achamos ou sentimos, Deus SEMPRE TEM RAZÃO! Ele é perfeito e não erra nunca. Precisamos aceitar isto com fé infantil e não mais empacarmos em relação à vontade divina. 
 
"Então Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma e ali fez uma enramada, e repousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade [note que ele esperava que Deus mudasse de idéia e acabasse destruindo aos ninivitas].
Então fez o Senhor Deus nascer uma planta, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar de seu desconforto. Jonas, pois, se alegrou em extremo por causa da planta [note que ele era um homem de extremos, tanto para a tristeza (v.1), como para a alegria]. 
 
Mas Deus, no dia seguinte, ao subir da alva, enviou um verme, o qual feriu a planta, e esta se secou.
Em nascendo o sol, Deus mandou um calmoso vento oriental; o sol bateu na cabeça de Jonas, de maneira que desfalecia, pelo que pediu para si a morte, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. 
 
Então perguntou Deus a Jonas: É razoável esta tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até a morte.
Tornou o Senhor: Tens compaixão da planta que não te custou trabalho, a qual não fizeste crescer; que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais?"
Jonas 4:5-11. 
 
          Imagine Jonas vendo uma planta crescer no prazo de um dia, com uma velocidade assustadora, nunca antes vista, era um milagre! E o milagre animou o coração de Jonas; é bem provável que ele tenha achado que estava vencendo o jogo, que Deus já estava se dobrando a ele, e até mesmo o paparicando. De repente, Deus lhe arrancou a única coisa que lhe valia naquela hora! E Jonas teve que se render, pois se continuasse endurecendo, Deus também endureceria com ele. 
 
          Quando Jonas se rende, o livro termina, pois é a história dos aguilhões de Deus na vida do profeta... Muitas vezes temos passado por aflições e angústias que nós mesmos geramos. Precisamos de um coração submisso à vontade do Pai, que saiba orar como Jesus orou no jardim do Getsêmani: "não seja como eu quero, e, sim, como tu queres" (Mt.26:39).
 

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