Ageu foi a primeira voz profética que se levantou entre os israelitas depois do exílio na Babilônia. A reconstrução do templo fora interrompida, e estava parada por cerca de quinze anos; o povo não se envolvia na retomada da restauração dizendo que o tempo de reconstruir a casa de Deus ainda não havia chegado.
Então o Senhor o envia com uma mensagem de repreensão ao seu povo, mostrando que enquanto não obedecessem a voz divina, Deus continuaria abalando a vida financeira deles, que já não estava nada fácil.
"Veio, pois, a palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas?
Ora, pois, assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai o vosso passado.
Tendes semeado muito e recolhido pouco; comeis, mas não chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vestis-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado".
Ageu 1:3-6.
Se a profecia parasse aqui, ninguém diria que, embora as condições materiais dos israelitas fossem ruins, Deus estivesse por trás disto. Quando pensamos no agir de Deus, pensamos em provisão, em prosperidade, nunca no contrário. Contudo, observando a continuação da profecia dada a Ageu, percebemos que a mão do Senhor estava estendida contra a nação de Israel, fazendo abalar sua economia. Era Deus abalando a vida financeira daquele povo!
"Esperastes o muito, e eis que o muito veio a ser pouco, e este pouco, quando o trouxeste para casa, eu com um assopro o dissipei. Por quê? Diz o SENHOR dos Exércitos; por causa da minha casa, que permanece em ruínas, ao passo que cada um de vós corre por causa da sua própria casa.
Por isso os céus sobre vós retém o seu orvalho, e a terra os seus frutos.
Fiz vir a seca sobre a terra e sobre os montes; sobre o cereal, sobre o vinho, sobre o azeite e sobre o que a terra produz; como também sobre os homens, sobre os animais e sobre todo o trabalho das mãos."
Ageu 1:9-11.
É estranho demais ver Deus dizendo que Ele fez com que o muito esperado se tornasse pouco na colheita de seu povo e, ainda, depois tenha assoprado sobre o pouco, fazendo-o dissipar-se. Não combina com a mensagem de prosperidade de nossos dias, Deus mandar os céus reterem o orvalho e a terra reter seu fruto; nem tampouco Ele fazer vir a seca! Mas Deus fez tudo isto. Por quê? Porque somente abalando as coisas naturais na vida de seu povo é que as coisas espirituais teriam seu lugar. Eles só estavam pensando em si mesmos e haviam abandonado a restauração da casa do Senhor; mas Deus conseguiu recuperar a atenção e serviço deles de uma forma muito especial.
Quando o escritor de Hebreus escreveu sobre as coisas abaláveis serem removidas, ele falou sobre as inabaláveis permanecerem, e então acrescentou que temos recebido um reino inabalável! Ou seja, quando estamos sufocando as coisas espirituais por uma dedicação dirigida somente ao que é natural, Deus pode fazer tremer o que é abalável, o natural, para que caindo estas coisas, permaneça em nossas vidas somente aquilo que é espiritual, e então nossa reconstrução poderá começar a partir deste ponto.
Certa ocasião Jesus contou a parábola de um rico insensato que só queria edificar para si mesmo e não para Deus. Disse que ele fazia planos para aumentar sua produção e armazenagem para depois poder dizer à sua própria alma que descansasse e se regalasse por ter bens para muitos anos; mas Deus chamou este homem de louco, pois o que ele preparou não era para si mesmo, e quando sua alma fosse perdida de nada lhe adiantaria toda a sua riqueza.
Finalmente o Senhor Jesus termina dizendo: "Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus" (Lc.12:21). De nada adianta edificarmos somente para nós mesmos; devemos edificar para o Senhor em nossas vidas, pois quando os abalos de Deus vierem, só ficará de pé o que construímos para o Senhor, e o que é nosso, humano, cairá. Em Lucas 14:28-30 Jesus assemelhou a vida cristã à edificação de uma torre, mostrando que no plano espiritual também edificamos.
O Senhor liberou palavras como estas num momento em que a vida de muitos irmãos da igreja que pastoreamos vinha sendo abalada, e não entendíamos o que estava acontecendo. Muitos estavam passando por verdadeiros terremotos, e todas as áreas de suas vidas estavam sendo sacudidas. Orávamos e não víamos intervenções espetaculares como antes; o céu parecia de bronze, pois parecia não haver resposta às orações.
Tenho percebido isto não só em minha própria vida e igreja, mas também em contato com muitas outras igrejas e pastores. É um fato. Tal qual nos dias de Ageu, quando nos esquecemos das coisas de Deus e queremos buscar somente as nossas próprias, Deus não somente deixa de ter um compromisso de nos abençoar, como pode nos julgar e disciplinar, uma vez que a responsabilidade de edificar o reino de Deus é nossa! Porém, quando procedemos de forma contrária, e colocamos o Senhor em primeiro lugar, tudo muda. A benção e a provisão divina fluem milagrosa e abundantemente, como prometeu nosso Senhor:
"Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas [materiais] vos serão acrescentadas."
Mateus 6:33.
Por que Deus estava sacudindo as finanças do seu povo naqueles dias depois do exílio? Porque os israelitas haviam se tornado egoístas e descomprometidos com o reino de Deus, e o propósito destes abalos era mudar a atitude do povo. Quando compreenderam que os abalos era uma forma de Deus fazê-los voltar a investir em sua casa, eles se animaram a obedecer sobre uma promessa divina de que então a prosperidade viria sobre eles. Em uma de suas profecias, Ageu deixa claro que os abalos visavam trazer para Deus os recursos para a restauração de sua casa:
"Pois assim diz o SENHOR dos Exércitos: Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar, e a terra seca; farei abalar todas as nações e as cousas preciosas de todas as nações virão, e encherei de glória esta casa, diz o SENHOR dos Exércitos.
Minha é a prata, meu é o ouro, diz o SENHOR dos Exércitos.
A glória desta última casa será maior do que a primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e neste lugar darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos."
Ageu 2:6-9.
Deus nunca está contra o seu povo. Estes abalos visavam corrigí-los e tratá-los, não destruí-los. Tão logo voltaram a cumprir a vontade de Deus, foram abençoados. Quando o livro de Hebreus fala sobre os abalos de Deus, fala também sobre "retermos a graça" (Hb.12:28), pela qual servimos a Deus de forma agradável.
Reter, significa não perder, não desperdiçar; isto nos mostra que mesmo em meio aos abalos divinos, podemos estar sob a graça de Deus, desde que não nos rebelemos insistindo em deixar nossos valores invertidos, de forma contrária aos valores da Palavra. Quando somos abalados pelo tratamento divino, devemos corresponder em obediência e mudança de mente, de atitude; ao obedecermos, a disciplina dará lugar à benção do Senhor.
Foi nestes mesmos dias e condição que Malaquias também foi usado por Deus para profetizar ao povo e desafiá-los a honrar o trabalho de reconstrução da casa de Deus; e ele falou inspirado pelo Espírito Santo, que à medida que o povo voltasse a dar os dízimos e ofertas alçadas, Deus abriria as janelas do céu e derramaria uma grande benção que não seria igualada por nenhuma outra (Ml.3:8-12)! E a partir do momento em que decidiram seguir a voz divina e obedecê-la, os israelitas viram a benção de Deus sobre eles:
"Considerai, eu vos rogo, desde este dia em diante, desde o vigésimo quarto dia do mês nono, desde o dia em que se fundou o templo do SENHOR, considerai nestas cousas.
Já não há semente no celeiro. Além disso a videira, a figueira, a romeira e a oliveira não têm dado os seus frutos; mas desde este dia vos abençoarei."
Ageu 2:18,19.
Embora Deus tenha abalado a vida financeira deles, fez isto só até que voltassem a priorizar o reino de Deus. Abalou as coisas abaláveis para que as inabaláveis permanecessem. Deus é soberano e governa em toda e qualquer circunstância, fazendo com que tudo contribua para o bem daqueles que amam a Deus, que são chamados segundo seu propósito. Nem sempre poderemos entender o agir invisível e misterioso de Deus, mas sempre poderemos ter a certeza de que é para o nosso próprio bem que Ele trata conosco e nos corrige.
Talvez sua vida esteja sendo abalada pelo Senhor e você não sabe o que fazer; aliás não há realmente nada a fazer quando os abalos divinos chegam a não ser permanecer firme e reconstruir a partir do que sobrou. Deus quer mudar seus valores, levando-te a colocar o reino d'Ele em primeiro lugar, e quando o fazemos o processo é invertido, e então Ele nos abençoará e nos levará à reconstrução do que ruiu, porém com novos alicerces.
Se você tem percebido os tremores e abalos em sua própria vida, não se demore em separar tempo para estar com o Senhor e sondar seu próprio coração. Muitas pessoas reclamam que o Pai jamais fala com elas, mas na verdade nunca tiram tempo para o ouvir! Fique à sós com Deus e derrame seu coração diante d'Ele, deixando-O falar sobre os seus valores (o que está certo e o que não).
Não se justifique, nem tente provar nada; procure ouvir a voz de Deus, que poderá se manifestar de formas diversas. Você pode ter uma experiência extraordinária e sobrenatural como também pode simplesmente ter avivado em seu coração determinadas passagens bíblicas nas quais Deus estará falando com você através delas. Não sei de que maneira Deus falará, mas se houver disposição e entrega de sua parte, certamente Ele o fará.
Assim como no caso dos aguilhões, também é com os abalos; não há nada que os resolva a não ser arrependimento e submissão. Somente por meio da obediência e mudança de atitude o quadro será revertido. Do mesmo modo que os israelitas dos dias de Ageu tiveram que mudar seus valores e comportamento para então verem a benção do Senhor em lugar dos abalos, nós também teremos que reordenar nossos valores e comportamento para vermos tudo mudar. Não conseguimos ver Deus agindo em meio a um desmoronar geral em nossa vida, mas Ele age exatamente assim: fora da vista dos olhos.
É lógico que não estamos falando do melhor de Deus para nós, mas sim de correção. O plano do Senhor é nos abençoar, nos fazer o melhor. Creio que o Pai prefere não ter que abalar nossas vidas. Contudo, pela dureza de nossos corações e tão somente por causa da nossa própria obstinação é que Ele nos trata desta maneira.
Não haveriam abalos se não nos desviássemos de sua vontade; eles só ocorrem quando algo está errado na nossa forma de agir. E a intensidade dos abalos sempre virão na proporção direta da nossa distorção de valores ou da nossa resistência ao Senhor e seu plano; não será maior e nem menor do que aquilo que necessitamos.
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